domingo, 14 de agosto de 2011

A noiva do vento

Carmen vasconcelos [Poetisa ]

"O que sabeis vós, humanos imbecis, de meus momentos de felicidade... com garras de aço construí meu ninho... cada gênio foi o ramo de palha certo... a presa para meu ninho...!

(Alma Mahler, Minha Vida)

Assisti há muito tempo ao filme "A noiva do vento" (título em português) e, à época, fui arrebatada pela história de Alma Mahler-Wefel, a protagonista do filme, como se por uma rajada de vento. Aquela mulher sedutora e altiva que atraiu paixões de tantos homens importantes para o mundo das artes e que também ela foi artista, escrevendo música, logo música, uma arte tão enigmática para mim, me fez querer conhecer mais da sua vida, da sua obra. Mas... O tempo foi-se e só alguns "Stefan Zweigs" e uma viagem de uma amiga a Viena depois, voltou-me a vontade de encontrá-la.

Sou fascinada com o fato de a arte ter sido tão particularmente bela na Viena do fim do século dezenove e começo do século vinte. Muitos dos maiores artistas da história conviveram entre si ou souberam uns dos outros e, além da arte, a ciência e a filosofia passavam por revoluções com Freud e Nietzsche. A Viena daquele tempo é encantadora. Depois de Assistir a "A noiva do vento", encantei-me com Alma Mahler também. Alma; além de arrebatar corações de gente como o pintor Klimt, o compositor Mahler, o arquiteto Walter Gropius, o pintor Oskar Kokoschka e o poeta Franz Wefel (entre alguns outros, tendo casado com os três últimos); amava e incentivava as artes, e escreveu ela mesma algumas peças musicais. Infelizmente, não consegui ouvir nenhuma delas.

Recentemente, uma amiga esteve em Viena e, conversando com ela, descobri uns livros sobre Alma na internet. A vontade de saber mais sobre Alma deu lugar, quando da leitura do primeiro livro (uma biografia escrita por Françoise Giroud) a um tanto de decepção. Além daquela mulher encantadora, ela parecia também egoísta, elitista e até um pouco indiferente a outras pessoas. Algumas características surgidas daquela leitura mancharam a imagem meio mítica que eu havia construído para admirar. Feito os amores, esses ídolos nossos também são formados com aquilo que queremos que eles tenham.

Agora, lendo "Minha Vida", escrito pela própria Alma, volto a encontrar os traços da mulher que eu conheci primeiro. Encontro as duas almas, e talvez outras mulheres, formadas de detalhes que escapam se fundem numa imagem irremediavelmente confusa. Eu me dou conta de que a verdadeira Alma só por retalhos surge nesses livros. Da alma de Alma Mahler eu jamais serei íntima, jamais conhecerei os escaninhos. Soberba pensar em desvendar sua personalidade. Mas quem disse que dos nossos contemporâneos conhecemos mais? Quem disse quer dos nossos íntimos conhecemos demais?

Alma Mahler continuará a ser importante para mim, suas histórias e suas nuances me ajudam na tentativa de entender o meu mundo (interno e externo), para a formação do qual ela contribuiu em alguma medida. Mas a história das almas nunca está no singular. Mesmo (e principalmente) quando essas almas se tornam mitos.