segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Damas de Branco plantam semente de liberdade em Cuba

Pedras e barras de ferro foram as armas escolhidas num ataque do governo contra um grupo de mulheres desarmadas nos arredores de Santiago de Cuba na tarde de 7 de agosto. De acordo com um relatório divulgado pela Federação Internacional pelos Direitos Humanos (FIDH), que tem sede em Paris, as pancadas foram selvagens e "causaram ferimentos, alguns consideráveis".
Não foi um incidente isolado. Nos últimos dois meses, os ataques a mulheres dissidentes desarmadas, organizados pelo aparato de segurança do Estado, aumentaram. O que é mais notável é a intensidade com que o regime está agindo para tentar esmagar o principal grupo, conhecido como Damas de Branco.
Isso não deixa de causar um risco ao regime, caso a comunidade internacional decida prestar atenção e aplicar pressão sobre o regime da elite branca como fez em oposição ao apartheid na África do Sul. Mas a decisão de correr esse risco sugere que a ditadura de 52 anos de Havana está se sentindo cada vez mais insegura. Os lendários barbados muito machos da "revolução", influenciados pelo julgamento de um Hosni Mubarak engaiolado num tribunal egípcio, aparentemente estão aterrorizados com a coragem discreta, religiosa e não violenta de pouco mais de 100 mulheres. Nenhum regime totalitário pode desdenhar a audácia destemida que essas senhoras demonstram, nem os sinais de que a ousadia delas está se espalhando.
Os capangas dos irmãos Castro estão aprendendo que elas não serão intimidadas facilmente. Vejamos, por exemplo, o que aconteceu na manhã daquele mesmo 7 de agosto em Santiago: duas mulheres, vestidas de branco e carregando flores, haviam se juntado depois da missa de domingo na catedral para uma procissão silenciosa em protesto contra a prisão pelo regime de opositores políticos. Defensores dos Castro e autoridades de segurança do Estado, "armados com varas e outros objetos pontiagudos", segundo a FIDH, atacaram o grupo tanto física quanto verbalmente. As mulheres foram então arrastadas para dentro de um ônibus, levadas para fora da cidade e largadas na beira de uma estrada.
Associated Press
Ao centro Laura Pollan, líder do grupo de dissidentes cubanas Damas de Branco, na saída de uma das missas que marca os protestos semanais do grupo em Havana, Cuba.
Algumas delas se reagruparam e se arriscaram novamente de tarde, desta vez para fazer uma vigília pública pela causa. Foi quando elas confrontaram outra barbaridade dos Castro. No mesmo dia, bandidos entraram nas casas do ex-prisioneiro político José Daniel Ferrer e de outro ativista. Seis pessoas, entre elas a mulher e a filha de Ferrer, foram levadas ao hospital com contusões e fraturas ósseas, de acordo com a FIDH.
As Damas de Branco entraram em cena na sequência da infame repressão em março de 2003 em que 75 jornalistas e bibliotecários independentes, escritores e defensores da democracia foram detidos e sentenciados a penas de 6 a 28 anos de prisão. As mulheres, mães e irmãs de alguns deles começaram um simples ato de protesto. Aos domingos, elas se reuniam na Catedral de Havana para a missa e depois marchavam carregando flores numa manifestação silenciosa pela soltura dos prisioneiros.
Em 2005 as Damas de Branco ganharam o prestigiado prêmio europeu Sakharov por sua coragem. Os celulares que capturaram em vídeo a brutalidade do regime contra elas ajudaram a espalhar a história. Em 2010, elas já haviam envergonhado tanto a ditadura internacionalmente que foi fechado um acordo para a deportação de seus maridos e filhos presos junto com suas famílias para a Espanha.
Mas alguns prisioneiros rejeitaram o acordo e algumas das mulheres ficaram em Cuba. Outras se juntaram a elas, chamando-se "Damas de Apoio". O grupo continuou a fazer procissões depois da missa de domingo em Havana, e mulheres no extremo leste da ilha adotaram a mesma prática em Santiago.
Laura Pollan, cujo marido se recusou a aceitar a oferta de exílio na Espanha e foi depois libertado da prisão, é uma importante participante deste grupo. Ela e suas companheiras prometeram continuar sua militância enquanto houver um dissidente político sequer na cadeia. Na semana passada eu falei com ela em Havana por telefone, e ela me disse que o regime "pensava que as Damas de Branco fossem desaparecer" quando aceitou libertar todos os 75 presos. "E no entanto o contrário aconteceu. Simpatizantes vêm se juntando. Há atualmente 82 damas em Havana e 34 em Santiago de Cuba." Ela disse que os grupo paramilitares têm por objetivo criar medo para evitar que o grupo cresça. Mas o movimento está se espalhando para outras partes do país, para lugares onde todo domingo agora tem protestos.
Isso explica o terror que abateu-se sobre o grupo em Santiago e seus subúrbios em sucessivos domingos desde julho e sobre outros membros em Havana recentemente.
Na terça-feira passada, quando quatro mulheres vestidas de preto subiram as escadas do edifício do Congresso em Havana cantando "liberdade", um defensor de Castro tentou removê-las. Surpreendentemente, a grande multidão que assistia gritou para ele deixá-las em paz. Ao final, agentes uniformizados levaram-nas. Mas o incidente, gravado em vídeo, é prova de um novo capítulo na história de Cuba, e ele está sendo escrito pelas mulheres. Como ele vai acabar pode depender muito de se a comunidade internacional decide ajudá-las ou simplesmente cobre os olhos para se proteger do sofrimento delas.

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