segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A sonoridade angolana em Dulce Trindade

Jomo Fortunato - Jornal de Angola
Em 1990 o guitarrista fundou o conjunto "Mizangala DT" afim de revalorizar os ritmos mais próximos da tradição da Música Popular
Fotografia: JA
Dulce Trindade ficou marcado pelo "Merengue Kupapumuka", uma canção que aprendeu, na infância, com o seu tio Toneco Jorge, solista do antigo conjunto "Ritmo Ngola", e irmão do não menos célebre cantor e compositor, Quim Jorge. A intensa musicalidade do ambiente onde cresceu, propiciou a formação de uma personalidade artística, que vem privilegiando e enaltecendo os ritmos de matriz angolana.
Iniciado na percussão, Dulce Trindade acabou por aprender os primeiros acordes de guitarra, igualmente com o seu tio Toneco Jorge, em 1969, e aperfeiçoou o contacto com as cordas, auxiliado pelo guitarrista, Brando Cunha. A curiosidade, aliada ao ardente desejo de aprender, levaram-no a integrar, a convite do percussionista São Pedro, o conjunto Mini-Ginga e depois o Mini Bossa 70, pela mão do baixista Carlos Timóteo, em 1971.
Filho de Sebastião Manuel Trindade e de Beatriz Bastos Trindade, Sebastião Manuel Trindade Júnior, nasceu em Luanda, no dia 19 de Novembro de 1956. No Mini Bossa 70, Dulce Trindade junta-se ao Brando Cunha (viola solo), Carlos Timóteo (baixo), Filipe (ritmo), Celino Franco (congas), Zecax (voz), e Negrita (dikanza), grupo apadrinhado pelo empresário Pedro Franco, integrando depois o conjunto Surpresa 73, formação do carismático “Nzo Yami”.
Em 1974, Dulce Trindade fez parte do conjunto “Ndimba Ngola”, com Brando Cunha, e Zecax, onde encontra Manecas (dikanza), Zé Eduardo (baixo), e António Gonga (congas). Vivia-se o dealbar da independência e, em 1974, Dulce Trindade, na condição de viola ritmo, passou pelo conjunto FAPLA-Povo, em 1975, formação musical que integrava David Zé, como director, Urbano de Castro, e Artur Nunes, (vocais), Babulo (bateria), Botto Trindade (guitarra solo), Carlos Timóteo (viola baixo), e Habana Maior (congas).
Na Banda Fenomenal, Dulce Trindade teve uma experiência passageira, mas reconhece o mérito de Jivago (vocal), Toy Batera (bateria), Didi (ritmo), Paulo Pakas (teclado), e do fraseado do baixo de Brando Cunha, músicos que o acompanharam.

Dulce nos "Kiezos"


Dulce Trindade passou ainda pelos “Kiezos”, em 1980, a convite de Juventino (bongós),  onde encontra o Zeca Tirylene, (guitarra ritmo), Marito (viola solo), Tony do Fumo (vocal), Juka (bateria), Adolfo Coelho (dikanza e voz), Fausto Lemos, (congas), e Tony Galvão (teclas). Dulce Trindade tem colaborado com frequência na nova formação dos “Kiezos”, grupo emblemático da história da Música Popular Angolana,  que integra, actualmente, os seguintes instrumentistas: Décimos (viola baixo), Zeca Tirilene (viola baixo), Brando Cunha (viola solo), Abana Mayor (tumbas), Dedé (viola ritmo) Neto (teclados), João (bateria), Mister Quim e Manuelito (vozes e dikanza), e Horácio Dá Mesquita que colabora, por paixão pelo grupo, na concertina e no piano acústico.
Como guitarra contra-solo, Dulce Trindade teve uma passagem efémera pelo conjunto “Merengues”, em 1979, banda carismática que reconstituiu o tecido musical luandense, em consequência da desintegração e dispersão de vários músicos, com o advento da independência.

"Mizangala DT"

No dia 15 de Abril de 1990, Dulce Trindade reuniu instrumentistas e fundou o conjunto “Mizangala DT”, formação revivalista cujo objectivo principal é revalorizar os ritmos mais próximos da tradição da Música Popular Angolana.
O primeiro disco,  “Primeira mulher”,  veio a público, em 1994, e Dulce Trindade comentou as seguintes canções: “Primeira Mulher, canção que dá título ao LP,e narra a história de um homem que abandona a sua mulher e volta arrependido com uma forte nostalgia do passado com a primeira mulher. “Ngala ni jienda” fala de uma mulher entregue à sua sorte, com filhos, abandonada pelo marido que preferiu as delícias da cidade. “Maké” e “Nguindo” são canções de amor  que retratam a beleza da mulher. “Rumba Miza DT” aborda uma situação de conquista numa farra típica da sociedade luandense. “Angilongolola” narra o defeito de falar mal dos outros na sua ausência. “Missanga” fala da alegria de um povo sofredor, que encontrou a alegria com a independência. “Jogo da vida” é uma canção que aborda as adversidades da existência humana.
O CD “Primeira mulher” teve arranjos musicais, viola baixo, ritmo, tumbas e coros de Dulce Trindade e Zino, Fénix (viola solo), Habana Maior (tumbas e voz), Carlos Vaz (bateria), Neto (órgão), São Mingas (vocal), e coros de Mandy e Fely. O grupo tem um novo CD, gravado em 2010, à espera de masterização e edição.

O baixo angolano

O baixo ou contrabaixo, também conhecido como guitarra baixo e viola baixo, é um instrumento musical melódico, destinado especificamente a executar a parte grave de uma linha musical. Pode ser acústico ou eléctrico.
O nome guitarra baixo pode ser dado, de igual modo, a modelos específicos de uma tipologia de guitarras clássicas, mas que possuem uma afinação mais grave que a guitarra clássica tradicional.
Dulce Trindade executa, preferencialmente, o baixo eléctrico e salvo alguns conjuntos de música moderna, na época colonial, não há tradição do baixo eléctrico, de quatro cordas, na história da Música Popular Angolana, função que era preenchida pela guitarra ritmo de seis cordas.
O primeiro baixo eléctrico aparece no conjunto África Show, com Zeca Tirilene, contudo  Mias Galheta (Banda Movimento), Moreira Filho, (Banda Maravilha), Carlitos Vieira Dias (Merengues), Carlitos Tchiemba (Semba Master’s), e os free lancer’s Evandro Filho, Marabu e Fredy são nomes não menores, entre outros, que surgem associados à actualidade dos músicos que executam a guitarra baixo.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário