domingo, 14 de agosto de 2011

Que venham mais 220 anos
DIMAS E. SOARES FERREIRA - Editoria Cidade -
 
Há exatos 220 anos o Arraial da Igreja Nova da Borda do Campolide era elevado à condição de Vila de Barbacena por ato do Governador da Província das Minas do Ouro, Luiz Antônio Furtado de Castro do Rio Mendonça, o Visconde de Barbacena. Entretanto, Barbacena já tinha inserido seu nome na história do Brasil desde o início do século XVIII, seja participando ativamente como ponto de confluência dos caminhos abertos pelos bandeirantes paulistas, seja fazendo parte do primeiro grande conflito das Minas, a Guerra dos Emboabas. Barbacena também ajudou a expulsar os piratas de Duguay-Trouian do Rio de Janeiro em 1711. Um ano depois foi erguida a Capela de Nossa Senhora da Piedade na Fazenda da Borda do Campo de propriedade do filho de Fernão Dias, D. Rodrigo Dias Paes. Poucos anos após a abertura do Caminho Novo, em 1725, o Bispo D. Frei Antônio de Guadalupe criou a Freguesia da Borda do Campo e indicou nosso primeiro Vigário Pe. Luiz Pereira da Silva. A Igreja nova, atual Matriz da Piedade, começou a ser erguida em 1743 nas terras da Fazenda das Duas Caveiras (de Cima e de Baixo), propriedade de Estevão Reis da Mota, abrigando sua primeira missa em 1748.
Em 1783, o Alferes Joaquim da Silva Xavier – Tiradentes – desbaratou a famosa quadrilha que apavorava a Serra da Mantiqueira, liderada por Joaquim de Oliveira, o “Montanha.” Finalmente, Barbacena foi palco também da Inconfidência Mineira, tendo pelo menos cinco famosos inconfidentes (Dr. Domingos Vidal Barbosa Lage, Cel. Francisco Antônio de Oliveira Lopes, Pe. José Lopes de Oliveira, Cel. José Ayres Gomes, Pe. Manuel Rodrigues da Costa), além do delator do movimento, o então proprietário da Fazenda das Duas Caveiras, Joaquim Silvério dos Reis.
Barbacena continuou sendo parte importante da história brasileira. Foi a primeira Vila do Brasil a enviar um ofício ao Príncipe D. Pedro pedindo para que ele ficasse no Brasil, o que levou o Príncipe Regente a dar a Barbacena o título de “Mui Nobre e Leal Vila.” Em 1823, Barbacena foi a primeira Vila das Minas Gerais a criar um curso escolar. Menos de uma década depois, em 1831, D. Pedro I foi recebido por aqui sem nenhuma pompa. Os sinos tocaram dobres fúnebres e as janelas permaneceram fechadas para seu séquito. Dois anos depois Barbacena enviou uma coluna de milicianos para lutar contra a insurreição de Ouro Preto, ano em que também foi transformada em Sede da Comarca do Paraibuna.
Nosso primeiro jornal surgiu em 1836 – O Parahybuna. Logo em seguida, em 1840, foi feita a proposta junto à Assembleia Provincial de alçar Barbacena ao status de Cidade de Barbacena o que foi aprovado por lei em 09 de março daquele ano. Em 1842 Barbacena voltou a ocupar o papel de protagonista da história do Brasil. Naquele ano, teve início no prédio da Intendência (atual Palácio da Revolução Liberal ou Câmara Municipal) a Revolução Liberal. Em 1865 Barbacena enviou vários de seus filhos como Voluntários da Pátria à Guerra do Paraguai. Finalmente, em 1880 chegaram os trilhos da Estrada de Ferro D. Pedro II e em 1882, além de inaugurado o Jardim Municipal chegou também o primeiro serviço de água potável que então abastecia seis chafarizes e 120 penas d’água e inaugurada a Biblioteca Municipal.
Barbacena naqueles últimos anos do século XIX sediou intenso movimento republicano. Em 1887, Olinto Magalhães fundou o Clube Republicano de Barbacena. Pouco tempo se passou e nosso maior homem público, Dr. Crispim Jacques Bias Fortes, aderiu ao movimento republicano, deixando o Partido Liberal. Nossa cidade também teve intenso movimento abolicionista. Com a Proclamação da República, Barbacena foi indicada, em 1891, como uma das possíveis cidades para sediar a nova capital do Estado de Minas Gerais. A decisão acabou sendo tomada aqui, no prédio onde funcionava a Escola Normal (mais tarde Banco do Brasil), onde estavam acontecendo as reuniões parlamentares do Congresso Mineiro.
Em 1905 Barbacena recebeu a luz elétrica, dando então início a um período de grande desenvolvimento econômico e industrial. Pouco mais de uma década depois, Barbacena construiu uma usina hidrelétrica no Rio das Mortes. O progresso então se tornou parte do cotidiano da cidade. Surgiram indústrias têxteis, alimentícias, de bebidas, sericícola e muitas outras. A antiga Estrada de Ferro D. Pedro II passou a ser chamada de Estrada de Ferro Central do Brasil e se conectou à Estrada de Ferro Oeste de Minas.
O século XX começou com intensa participação de Barbacena no processo político nacional. Durante a Campanha Civilista, Bias Fortes articulou o apoio a Hermes da Fonseca em troca da instalação do primeiro Colégio Militar de Minas Gerais e da primeira Escola Agrícola do país. Depois, Barbacena sediou o Quartel-General da 4a Região Militar Revolucionária durante a Revolução de 1930. Transformado, poucos anos depois no 9o Batalhão de Polícia Militar. Em 1942, Barbacena enviou seus filhos para mais uma guerra. Centenas de jovens barbacenenses se alistaram e passaram a fazer parte da Força Expedicionária Brasileira. Alguns deles acabaram doando suas vidas na luta contra o nazi-fascismo na Itália. Terra natal de homens como Alberto Santos Dumont, Bias Fortes, Sobral Pinto, Flausino Vale, Pde Manuel da Costa e tantos outros, Barbacena continua viva e ativa na história do Brasil.
Localizada na região central de Minas Gerais, na Micro-região dos Campos das Vertentes. O município de Barbacena possui hoje uma área de 758,37 Km2. Com uma localização privilegiada, está a 173 Km de Belo Horizonte, 262 Km do Rio de Janeiro e 603 Km de São Paulo. É cortada pelas BRs 040 e 265, além das MGs 338 e 132. Sua população atual é 126.284 habitantes, e seu colégio eleitoral possui 92.528 eleitores. 47,6% da população barbacenense é masculina. Logo, as mulheres são maioria, totalizando 66.122 guerreiras. Nosso índice de urbanização é de 91,5%.
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é um indicador que leva em consideração a renda per capita, a expectativa de vida, o nível de matrículas na educação básica e a taxa de analfabetismo entre adultos. Quanto mais próximo de zero, piores as condições de desenvolvimento humano. Quanto mais próximo de um, maior o desenvolvimento humano. IDH acima de 0,8 é considerado alto. Nosso IDH em 1991 era 0,716. Em 2000, passou para 0,798. O IDH brasileiro passou de 0,8 em 2007. Mas, em 2000, era 0,766. Logo, Barbacena tinha IDH acima do brasileiro e bem acima do mineiro, que era de 0,773.
Barbacena recebeu repasses de R$ 21,685 milhões do Fundo de Participação dos Municípios em 2010. O governo federal também repassou R$ 18,037 milhões para o FUNDEB. Já o Bolsa Família beneficia 6.648 famílias na cidade.
Barbacena tem o 13o PIB do estado. A 18a renda per capita. É a 19a cidade em arrecadação tributária e a 15a em competitividade industrial. Importante lembrar que Minas Gerais tem mais de 850 municípios. Nosso PIB em 2010 foi de R$ 1,190 bilhão e nossa renda per capita foi de R$ 10.712.
5,9% de nossa riqueza vem da agropecuária, 27,6% da indústria e 66,5% vem do setor de comércio e serviços. Em 2010, Barbacena arrecadou R$ 27,172 milhões de ICMS, R$ 145,10 mil de ISSQN e mais R$ R$ 27,622 milhões através de outros tributos, totalizando uma arrecadação fiscal direta da ordem de quase R$ 55 milhões. Nosso principal setor econômico para fins de arrecadação fiscal é o comércio, destacando-se o comércio de calçados, supermercados e hipermercados, vestuário, material de construção, lojas de departamento, tecidos e cama-mesa-banho, farmácia e perfumaria, mobiliário-decoração-colchoaria, autopeças, eletrodomésticos, veículos, ótica, combustíveis e lubrificantes, informática, telefonia, motos e cine-foto-som. No setor de serviços, o destaque são transporte e armazenagem, correios, alojamento e alimentação, informação e comunicação, bancos e seguradoras.
O Índice de Competitividade dos Municípios (ICM) é outro índice que leva em consideração a performance econômica (atividade econômica, comércio internacional, remuneração e emprego), alavancagem do governo (finanças públicas), quadro social (mercado de trabalho, instituições de apoio, multiplicidade econômica) e infraestrutura (infraestrutura básica, educação, saúde e meio ambiente). Ele vai de 0 a 100. Barbacena tem um ICM geral de 57,75, considerado médio. Já o Índice Mineiro de Responsabilidade Social (IMRS) que abrange educação, saúde, segurança pública, emprego e renda, gestão, habitação, infraestrutura, meio ambiente, cultura, lazer e desporto, vai de zero a um. O de Barbacena é 0,667.
Nosso mercado de trabalho, segundo dados extraídos do RAIS do MTE é composto por 25.374 empregos formais distribuídos em 4.938 estabelecimentos. O setor que mais emprega na cidade é o de serviços (34,4%), seguido do comércio (26,9%), administração pública (16,1%), indústria de transformação (15,4%), agropecuária (3,9%) e construção civil (3,4%). Os índices mais significativos de crescimento de nosso mercado de trabalho em 2010 estão na construção civil (29%), comércio (10,2%), indústria de transformação (5,2%) e agropecuária (4,3%).
Como podemos ver, Barbacena completa 220 anos com muita coisa a comemorar. Claro que há muito trabalho a ser feito para que transformemos nossa cidade num lugar marcado pela igualdade de oportunidades, pela bonança, pela justiça social e pela democracia. O caminho foi pavimentado pelos nossos antepassados e agora cabe a cada um de nós, homens e mulheres, o papel de fazermos nosso futuro virar realidade. Parabéns Barbacena. Que venham mais 220 anos.

NOTA DA REDAÇÃO: DIMAS ENEAS SOARES FERREIRA é doutorando em Ciência Política pela UFMG e Mestre em Ciências Sociais pela PUCMinas (Gestão de Cidades). Diretor do Sinpro Minas e Professor da Epcar e Unipac, vencedor do XI Prêmio Tesouro Nacional em 2006. Atua como articulista político do site barbacenaonline desde 2001.