Pesquisa gera livro sobre o passado de Lençóis Paulista

Rita de Cássia Cornélio

Uma pesquisa feita pelo historiador Edson Fernandes resultou em um livro, com ilustração de Éder Flávio, que conta o ‘nascimento’ da cidade de Lençóis Paulista (43 quilômetros de Bauru). Por meio de depoimentos registrados em várias publicações, arquivos, mantidos em sua maior parte por instituições públicas das cidades de Agudos, Botucatu, Lençóis Paulista e São Paulo, ele traça a trajetória da vila que hoje é uma progressista cidade com mais de 60 mil habitantes. Batizado de “Uma vila no Sertão Lençoes Século XIX”, a publicação é composta de duas partes. Na primeira, Fernandes cobre o período anterior à elevação de Lençóes à categoria de vila. O início da chegada dos primeiros povoadores, até meados da década de 1860, quando Lençóes conquistou sua autonomia administrativa, desmembrando-se de Botucatu. “A primeira parte do livro é um contexto históricos. A segunda são histórias que ocorreram, conflitos entre proprietários por causa de terra que vai para a justiça. Alguns textos são sobre escravos. Tem uma história de um sujeito que se intitulava médico e tinha uma farmácia. Como ele não era médico, a polícia fechou a farmácia dele. Foi um trabalho de detetive, peguei um nome aqui outro lá e fui montando o mosaico. Cada história é resultado de pesquisa em vários documentos.” Segundo ele, as histórias descritas na segunda parte do livro são todas verídicas e ocorreram nos primeiros tempos de Lençóes, no século XIX, embora algumas delas se arrastem até o início do século XX. “Pretendi traçar um panorama de um povoado situado no sertão paulista, na fronteira do povoamento, além do qual havia territórios pouco explorados, habitados por tribos indígenas que esporadicamente entravam em contato com os povoadores adventícios.” Para o autor, o trabalho foi fazer de retalhos uma imagem que permita ao leitor uma pálida ideia de como era a vida no sertão paulista na segunda metade do século XIX. “São histórias de vencedores e vencidos. Dos vencedores, porque conseguiram registrar seus feitos e riquezas e fazer deles a história oficial, vista de cima, a que ficou porque tinham acesso à escrita e a usaram como forma de dominação.” No rol dos vencidos estão mulheres, escravos negros, índios, aventureiros, pobres desvalidos em geral, muitos deles embrutecidos pela miséria e pela opressão de doenças, ambiente e leis desconhecidas. As histórias são apresentadas como que flagrantes da vida cotidiana da antiga Lençóes com todos os problemas de um povoado em formação. O autor avisa que embora as histórias da segunda parte tenham certa ordem cronológica e obedeçam a um fio condutor, podem ser lidas de forma aleatória e separadamente, pois cada uma tem começo, meio e fim. A publicação, segundo Fernandes, destaca as relações entre as pessoas. Ele ressaltar que Botucatu deu origem a Lençóes que, por sua vez, deu origem a Agudos e Pederneiras. O povoamento do Brasil e do Estado de São Paulo começa pelo litoral, por onde chegaram os portugueses.