segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Perdendo tempo com bobagens *Carlos Augusto Vieira da Costa
É curiosa a forma como algumas pessoas fazem questão de marcar posição contra o que se convencionou chamar de ativismo gay, deixando transbordar sua indignação por meio de comentários totalmente despropositados, como se todo homossexual fosse um pervertido.
Nessas horas fico pensando como estas pessoas reagiriam ao serem confrontadas com o diagnóstico que Sigmund Freud costumava fazer em casos semelhantes. Para Freud, toda negação profunda e exagerada no mais das vezes significava uma resistência contra a erupção de desejos recônditos. Em outras palavras, para o pai da psicanálise os homofóbicos não passariam de gays enrustidos e atormentados pela possibilidade de se reconhecerem naqueles contra os quais dirigem o seu ódio insano.
Não deixa de ter alguma lógica. Quem assistiu ao ótimo filme “Beleza Americana” (1999), em que um dos personagens, um militar machão e conservador, no final se revela ao tascar um beijo na boca de seu vizinho, protagonizado pelo ator americano Kevin Spacey, vai entender melhor o que estou dizendo.
Antes de prosseguir, porém, seria bom esclarecer aos leitores, especialmente às leitoras, que não sou gay. Apenas me sinto provocado pela falta de razoabilidade que alimenta este tipo de preconceito. Como qualquer pessoa, já tive a oportunidade de conhecer e manter um convívio social amistoso com muitos gays, e jamais tive a percepção de que fossem indivíduos desprezíveis pelo fato de serem gays. Pelo contrário, alguns se revelaram pessoas dotadas de um elevado caráter e com grande capacidade intelectual, o que me faz concluir que gays e heterossexuais, guardadas as proporções populacionais, são rigorosamente iguais em suas qualidades e defeitos, diferenciando-se apenas pela opção sexual, a qual, aliás, sequer chega a ser surpreendente, pois não é de hoje que a humanidade convive com este tipo de diversidade. Basta lembrar os grandes filósofos gregos da antiguidade, vários deles homossexuais, conforme relatos históricos, mas que nem por isso deixaram de nos legar obras de fundamental importância para a formação da civilização.
Mas para além de qualquer questão política ou social, o que realmente me causa espécie na homofobia é um aspecto bem mais prosaico. Explico. Na condição de heterossexual convicto, fico pensando o quão favorável pode nos ser a franca aceitação da diversidade sexual. Afinal, o fato de haverem mais gays assumidos implica naturalmente numa diminuição da concorrência em um campo fundamental da vida masculina, aumentando consideravelmente a nossa chance de êxito naquela que é uma das atividades mais elementares e sedutoras da condição humana.
Por isso, chego à conclusão que Freud, desta vez, errou em seu diagnóstico, pois homofóbicos não são necessariamente gays enrustidos. Na verdade, são homens que provavelmente não são fanáticos por mulheres, pois se de fato fosse, não ficariam perdendo tempo com essas bobagens e aproveitariam a vantagem que lhes foi dada pela natureza.

Carlos Augusto Vieira da Costa
Procurador do Município de Curitiba