domingo, 14 de agosto de 2011

O octogenário frei Augusto Girotto




Foto: Del Rodrigues - Aos 80, frei Augusto diz que não pretende se aposentar
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Erick Tedesco
tedesco@tribunatp.com.br


São sete décadas dedicadas ao sacerdotismo. Na quinta-feira passada, 11, o frei Augusto Girotto comemorou 80 anos e recebeu homenagens dos alunos da Escola de Teologia para Leigos, da Diocese de Piracicaba, onde é diretor. Já no domingo, 14, celebrará a missa das 20 horas na Igreja dos Frades e mais uma homenagem: desta vez do coral com 50 vozes, do qual faz parte como regente e estará entre eles durante a apresentação especial.

Natural de São Bernardo do Campo, Girotto ingressou na Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, onde fez sua primeira profissão religiosa em 1950 e foi ordenado sacerdote em junho de 1956. “Entrei aos 10 anos no seminário e sempre busquei aperfeiçoamento”, comentou o frei sobre os primeiros dias em Piracicaba, no seminário Seráfico São Fidélis. Entre idas e vindas, ele também trabalhou em Santos, São Paulo, Birigui e Amazonas. “E estudei teologia no Rio de Janeiro e em Santiago, no Chile.”

E o ofício de professor sempre motivou frei Augusto, que já lecionou em universidades e atualmente dá aulas na Escola de Teologia para Leigos para mais de 400 alunos. O curso, com duração de cinco anos, está divido nas disciplinas Bíblia, Teologia Dogmática, Ecleseologia, Bioética, Antropologia Teológica, Teologia da Revelação e Mariologia. “Apesar de não ser reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC), é muito procurado por pessoas que buscam engajamento na pastoral e para a autopromoção”, explica.

Frei Augusto divide as horas na Escola da Diocese com as missas que reza, tanto na Igreja dos Frades como em outras da cidade. “Seguimos uma escala”, ressalta. É preciso, ainda, encontrar tempo livre para o coral e para cuidar da horta dos Frades. “Pretendo ficar aqui, mas não me aposentar. O contato com o ser humano sempre me oferece novos ensinamentos”, afirma.

Na Diocese, ele já foi coordenador diocesano de pastoral, diretor espiritual dos cursinhos de cristandade e de movimentos jovens, professor da Faculdade de Serviço Social, que pertencia à diocese e pároco das Paróquias Santa Catarina e da Sagrado Coração de Jesus, onde hoje é vigário-paroquial. “E cantei no coral na Escola de Musica Maestro Ernst Mahle. Ele ensinava música no seminário.”

Mesmo longe de Piracicaba, a atuação do frei foi intensa. Ele lembra do ano – 1984 - em que foi em missão à tribo dos índios ticunas, há 1.200 quilômetros de Manaus, no Amazonas. “Fica perto da fronteira com a Colômbia e Peru. O trabalho com os índios foi difícil, pois é preciso entender e viver de acordo com os seus costumes”, conta. De acordo com o religioso, a civilização já tinha chegado à tribo, no entanto, as cerca de 200 famílias estavam abandonadas. “Fala-se da grande ocorrência de febre amarela entre eles, mas lá o maior problema era a hanseníase.” Ele aproveita o assunto para cutucar a Fundação Nacional do Índio (Funai). “A fundação cuida dos índios, mas é um trabalho relativo. É esporádico.”

De protagonista a coadjuvante na formação do cidadão brasileiro, frei Augusto vivenciou situação inversa daquela experiência no Amazonas durante a década de 60, em Santos, na Ditadura Militar. “Éramos constantemente vigiados e o bispo foi preso. Ficou um mês em prisão domiciliar. No entanto, contávamos com a ajuda de uma mulher, da Pastoral, que tinha um primo do Dops (Departamento de Ordem Política e Social). Ela nos avisava quando algum policial apareceria na missa para fiscalizar o sermão”, revela