sábado, 27 de agosto de 2011



Meninas superpoderosas

 
aredação.com.br-analise econômica

Desde sempre acreditei no poder das mulheres, na forma de condução das coisas, no jeito de lidar com assuntos os mais complicados. Sobretudo, sempre acreditei na mulher brasileira. No campo dos negócios, a capacidade dos executivos brasileiros homens sempre foi enaltecida. Muitos elogiam o tino forjado nos solavancos da economia para destacar a forma de reagir rapidamente, de ser criativo etc. Mas, e a mulher brasileira, que enfrentou e enfrenta não apenas o preconceito, mas as duplas jornadas e, infelizmente, muitas vezes até os maus-tratos  expressos na violência doméstica. Mas, porque estou falando tudo isso? Porque a presidenta Dilma apareceu num ranking da Forbes em terceiro lugar como a mulher mais poderosa do planeta. Perdeu só para Angela Merkel da Alemanha e a secretária de Estado norte-americana Hillary Clinton. Levando em conta o tempo em que ela está no poder, isso é muito importante.

Mas esse reconhecimento mundial do poder da nossa presidenta imediatamente me remeteu a um tempo não muito distante. Me lembrei do comentário feito pelo então presidente da Fiesp, Mário Amato, à ministra Dorothéa Werneck. Eu estava presente no dia, cobrindo mais um capítulo dos solavancos da nossa economia. Amato disse que a considerava competente, “apesar de ser mulher”. Expressava numa frase única todo o preconceito de um país contra a escalada feminina nos cargos importantes, expressava a tese de que apenas ao homem cabia a competência e sensatez para ocupar cargos importantes.

Fico feliz por esse tempo estar passando. Ao longo de minha trajetória sempre trabalhei rodeado por mulheres. Algumas vezes elas me chefiaram, noutras eu era o chefe, mas a convivência sempre foi de respeito mútuo e admiração. Ao meu redor sempre tive mulheres maravilhosas que além da capacidade de execução de seus trabalhos tinham de ser mãe, mulher, dona-de-casa. E essa administração maluca do tempo, que nenhum de nós homens conseguimos ou entendemos, soa como um desafio e as torna ainda mais meticulosas e dedicadas ao que fazem.

O Brasil tem mudado, ainda bem. Dilma virou presidenta, nomeou um universo de mulheres para postos chaves, como a jornalista Helena Chagas, competente e sensível. Acho até que serão essas mulheres as responsáveis por tornar as hostes do governo menos corruptas e melhorar a imagem geral da população em relação ao Planalto. Afinal, é preciso que se entenda que não dá para o Brasil continuar de escândalo em escândalo. Quando a imprensa fala de faxina, claro se refere à possibilidade de limpeza geral e não apenas a ações tópicas à mercê de denúncias ou investigações. A sensibilidade feminina capaz de ver as mazelas porque passam crianças abandonadas ou o flagelo da fome, tem de ser a mesma que pode enxergar o mau uso da máquina e dinheiro públicos em favor de corruptos. Isso acontece nas concorrências, nos contratos, nas relações diárias e promíscuas de certos homens públicos e seus fornecedores ou financiadores de campanha.

Tudo isso pode ser revisto, sob pena de no futuro os mesmos que consideram demais uma mulher no poder passarem a considerar que as igualdades de direitos se mostram também nas ações, ou na falta delas. A expectativa da população, quando elegeu Dilma, era justamente essa, de acreditar que ela podia fazer mais e de forma diferente, mais meticulosa e sensível. O povo, presidenta, quer vê-la em primeiro lugar em todos os rankings, quer reelegê-la, mas sabe que se metade da corrupção acabasse hoje os investimentos em vários campos poderia aumentar de forma significativa. Seria possível tornar nossas ruas mais livres de crianças carentes e abandonadas, haveria mais escola, mais segurança, mais saúde, teríamos melhor distribuição de renda, haveria menos desigualdade. É possível passar para a história sendo a primeira mulher eleita no Brasil, mas a história pode ser contada de várias formas. Escolha a melhor versão, aquela com final feliz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário