domingo, 28 de agosto de 2011

Marcha das Margaridas: Estratégia acertada de mulheres brasileiras
Escrito por Erica Soares   
28 de agosto de 2011, 12:40Brasília (Prensa Latina) Decididas a acabar com séculos de exploração e discriminação, as trabalhadoras rurais e florestais brasileiras criaram a Marcha das Margaridas, uma estratégia que lhes permite conquistar visibilidade, reconhecimento social e importantes reivindicações.

  A manifestação foi coordenada pela Confederação Nacional de Trabalhadores da Agricultura (Contag), que agrupa mais de quatro mil sindicatos.

Realizada a cada quatro anos em homenagem à colega e líder sindical Margarida Alves -assassinada no dia 12 de agosto de 1983 por encomenda de proprietários rurais e donos de engenhos açucareiros da Paraíba-, a quarta Marcha efetuada no dia 17 de agosto em Brasília teve como lema desenvolvimento sustentável, mas com justiça, autonomia, igualdade e liberdade.

Para muitas das cerca de 70 mil participantes, esta mobilização certamente foi fundamental para o grande pacote de medidas anunciado pela presidenta, Dilma Rousseff, no encerramento da Marcha, como resposta à lista de reivindicações apresentada no Palácio do Planalto (sede do governo) em julho passado.

A respeito, a secretária das Mulheres da Contag, Carmen Foro, avaliou como positiva a atenção oficial às reivindicações e recordou que desde 2000 as mulheres brasileiras têm conquistado a adoção de políticas públicas.

"O que vimos agora é a implementação dessas políticas conquistadas", destacou Carmen Foro, que, apesar dos avanços, apontou que as mulheres nunca vamos estar satisfeitas, sempre vamos querer mais, porque "é próprio da natureza da mulher batalhadora querer melhorar suas condições de vida".

Horas antes do encerramento da quarta Marcha, com a presença da presidenta brasileira, cerca de 70 mil trabalhadoras rurais e florestais marcharam pela avenida principal desta capital com grandes bandeiras e imensos cartazes.

A maioria deles denunciavam a alta concentração da terra no Brasil e recusavam o atual modelo de produção rural porque este favorece o latifúndio que acaba com o meio ambiente e expulsa de seus lugares de residência milhões de moradores do campo.

Em ato em frente à Explanada dos Ministérios, a secretária nacional da mulher do Partido Comunista do Brasil, Liege Rocha, destacou que a alta participação nesta manifestação constitui uma demonstração do avanço das mulheres e sua vontade de transformar o Brasil e serem protagonistas de sua história.

Entre os sucessos das marchas anteriores destacam a aposentadoria das trabalhadoras rurais aos 55 anos, a emissão de documentos das mulheres que não conseguiam acesso a políticas públicas como Bolsa Família e a titulação na divisão da reforma agrária em nome delas.

DILMA ROUSSEFF: CONSIDERO-ME UMA PRESIDENTA MARGARIDA

Em seu discurso de encerramento, no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade, a presidenta brasileira enumerou uma série de ações de seu governo para favorecer as mulheres do campo e da floresta, garantiu um diálogo permanente e periódico com elas e se declarou uma Presidenta Margarida.

Exaltou que as mulheres representam cerca da metade da população rural e são o alicerce generoso que dá suporte a milhões de famílias e crianças, por isso -disse- o estado brasileiro tem a obrigação de garantir seus direitos.

MEDIDAS E AÃ�ÕES

Rousseff entregou à Contag uma carta com a resposta oficial às reivindicações, a qual destaca que entre as conquistas da quarta Marcha sobressaem a construção e equipamento de 16 unidades básicas de saúde entre este ano e o próximo.

Também serão implantados centros de referência em saúde, assim como a Rede Cegonha, destinada a atender a mulher durante toda a gravidez e até que o bebê cumpra os dois anos de vida.

Além disso, prevê-se a realização da campanha nacional de prevenção do câncer de colo de útero e de mama, assim como a elaboração de um plano integrado de vigilância das populações expostas aos agrotóxicos.

A carta inclui também o aumento da compra dos produtos da agricultura familiar para a merenda escolar e assegurar a participação das organizações femininas como representantes da sociedade civil no Conselho de Alimentação Escolar.

A integração da iniciativa Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (com muito bons resultados na autonomia das mulheres produtoras rurais) ao plano Brasil sem Miséria e o aumento do orçamento para incentivar a agricultura familiar são outras das respostas oficiais às demandas das trabalhadoras rurais e florestais.

Também a criação de um grupo interministerial para discutir critérios com vistas à implantação de centros de educação infantil na zona rural e a criação de três unidades fluviais na Amazônia a fim de emitir documentos que deem cidadania às mulheres do campo e da floresta.

Será garantido um mínimo de 30 por cento de mulheres entre as pessoas beneficiadas com o serviço de assistência técnica agrícola.

A participação conjunta das mulheres na escritura da propriedade da terra e o interesse do governo de viabilizar o acesso à casa, água potável, energia elétrica, avenidas, serviços de educação e saúde, e de apoiar a estrutura produtiva com crédito, assistência técnica e garantia de comercialização, são outras ações incluídas na carta.

Além da instituição de um grupo de trabalho para a elaboração de um programa nacional de agroecologia e o início do diagnóstico de todos os assentamentos rurais do país com vistas a definir como encaminhar a questão do acesso à terra doravante.

Recebida a carta com as respostas do Governo, a Contag e a coordenadora nacional das trabalhadoras rurais afirmaram que, junto com a rede de alianças da Marcha das Margaridas, analisarão todo o conteúdo e continuarão o diálogo a fim de atingir outras reivindicações que não tiveram avanços até o momento.

*Correspondente da Prensa Latina no Brasil.

arb/ale/es

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