segunda-feira, 15 de agosto de 2011


Ícone do Jazz Dance no País

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"Caminho da seda (2002)", espetáculo do grupo Raça, dirigido por Roseli Rodrigues. A bailarina é considerada a figura mais importante do Jazz brasileiro
ALCEU BETT
Documentário aborda a trajetória coreográfica da bailarina Roseli Rodrigues, um dos principais nomes do Jazz Dance no Brasil
Ao contrário da maioria das histórias de bailarinas, cujo começo se presentifica na simpática figura de uma menininha de silhueta esguia, de"tutu" e sapatilhas de ponta, esboçando seus primeiros passos de dança em frente ao espelho, a bailarina paulista Roseli Rodrigues (1955 - 2010) começou a dançar somente aos 21 anos. Ela, então, cursava, no segundo ano da faculdade de educação física, a disciplina dança-educação.A coreógrafa, mais tarde consagrada ícone do Jazz Dance no Brasil, achava-se velha demais para dançar. Mas, o interesse pela dança e a nova experiência vivenciada por seu corpo, a estimulou ir além de seus limites físicos. Roseli entregou-se completamente ao Jazz, desenvolvendo um estilo muito próprio de dançar, onde tudo resplandecia paixão pura.

Documentário
É sobre a história dessa mulher que ensinava os alunos a "acordar o corpo", inventiva em sua arte e construtora de novas possibilidades ao gênero Jazz, que as pesquisadoras Inês Bogéa e Marcela Benvegnu se valeram para compor o documentário "Roseli Rodrigues - poesia em Movimento".

O filme, com 24 minutos de duração, trata de maneira clara e poética sobre o percurso coreográfico traçado por Roseli, a partir de depoimentos de amigos e nomes importantes do campo, como Edy Wilson, Andrea Spósito, Isabella Rodrigues, Kika Sampaio, Ely Diniz e da própria Marcela Benvegnu, responsável pela pesquisa da obra.

Inês Bogéa conta que a ideia de produzir o documentário surgiu há anos, porém só foi concretizada no ano passado. O que virou uma homenagem póstuma à bailarina falecida em março de 2010. "Desde 2005 venho desenvolvendo uma série de documentários sobre personalidades da dança, comecei com Renée Gumiel, ´A vida na pele´, depois vieram mais três vídeos, além das séries ´Figuras da dança, canteiro de obras e corpo a corpo com professores´. O contato com o trabalho de Roseli veio com a pesquisa desenvolvida pela Marcela. Roseli Rodrigues tinha uma linguagem muito particular, a paixão transparecia em tudo que fazia. Ela transitava, através do Jazz, entre os conceitos contemporâneo e popular".

Para Marcela Benvegnu narrar a história de Roseli é deixar registrada a sua importância e influência para o desenvolvimento do Jazz no Brasil e, principalmente, sua forma peculiar de fazer os corpos se moverem. "Muitos perguntavam se eu não iria publicar minha pesquisa sobre Roseli em livro, e se a Inês não iria fazer um filme sobre ela. Juntamos os desejos e vontades nesse projeto, que é o primeiro documentário sobre uma personalidade do Jazz Dance no País", revela. O vídeo será distribuído gratuitamente para escolas, universidades, ONGs e bibliotecas no Brasil.

Fique por dentro
Passos da vida

Nascida em São Paulo, Roseli Rodrigues era conhecida no meio artístico pela criação de grandes trabalhos coreográficos em musicais de teatro, shows, filmes e propagandas de televisão. Com o espetáculo "Tango sob dois olhares", ganhou o Prêmio Teatro de Dança em 2009. Foi coreógrafa, professora, jurada, palestrante e ativa conselheira do Festival de Joinville. A bailarina foi idealizadora do Grupo Raça, cuja proposta é mostrar que qualquer pessoa pode vir a dançar bem. "Trabalhar com Jazz Dance no Brasil sempre foi tarefa árdua, pois não temos referência de coreógrafos, bibliografia especializada e publicações brasileiras. (...) Cabe aos coreógrafos uma tarefa de extrema responsabilidade: dar atenção a gerações que passaram, estudar o pouco que está disponível, pesquisar novas linhas de movimento e concepção. É preciso mudar a cabeça daquelas pessoas que acham que não pode existir companhia de Jazz no Brasil",disse, certa vez, a bailarina.
Ana Cecília SoaresRepórter