segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Gravidez custa pelo menos R$ 15 mil
Despesa inclui estrutura e conforto para a chegada do bebê e não contabiliza gastos com exames de saúde durante a gestação
Tisa Moraes
A chegada de um bebê representa uma grande alegria no seio de uma família, mas também um significativo aumento nas despesas, principalmente se não houver planejamento. Somente durante a gestação, os custos com estrutura e preparação para a chegada do filho chegam a R$ 15 mil para um casal de classe média que já tenha plano de saúde e sem incluir os valores pagos ao hospital na hora do parto.

No Dia da Gestante, comemorado hoje, o JC divulga pesquisa informal feita junto a mulheres grávidas e mães de filhos pequenos, que revelam a experiência prazerosa de ter um filho, mas também as abdicações pessoais e estratégias para (tentar) gastar sem excessos, mesmo que seja em prol do ser mais importante de suas vidas.

Sem abrir mão do bom gosto, mas com controle nos gastos, somente com mobiliário e decoração para o quartinho do bebê, é preciso desembolsar cerca de R$ 6 mil. Com roupas e utensílios que compõem o enxoval da criança, outros R$ 3 mil; roupas, produtos cosméticos e atividades físicas para a futura mamãe, mais R$ 4,5 mil. Os R$ 1,5 mil restantes incluem outros mimos que a criança não venha a ganhar de parentes e amigos da família, que costumam enviar muitos presentes – o que representa uma economia e tanto para os pais.

De acordo com as mães consultadas pela reportagem, uma regra é básica: quanto mais planejada for a gravidez, menores serão as despesas, já que haverá tempo para pesquisar preços e até poupar recursos antecipadamente para, depois, barganhar nas compras à vista. Foi assim que a nutricionista Larissa Segalla Gobbi, 36 anos, decidiu que teria sua filha Teodora, hoje com 3 anos.

Logo que descobriu-se grávida, ela já começou a providenciar o enxoval e o quarto da filha, além de comprar um carro maior. “Já estava casada há algum tempo e tinha um planejamento para poder parar de trabalhar e me dedicar exclusivamente a ela. Aos sete meses de gravidez, já estava com tudo pronto”, comenta.

Larissa revela que, principalmente quando se trata do primeiro filho, a vontade de comprar as roupas, bichinhos, enfeites e utensílios mais bonitos e caros é tentadora. No entanto, segundo, ensina, é preciso ter um mínimo de racionalidade para não se deixar cair em armadilhas. “Eu mesma comprei um monte de toalhinhas que, três anos depois, ainda estão na embalagem. É claro que vou usa-la algum dia, mas sei que comprei só porque achei bonita”, reconhece.

Presentes

Economizar, entretanto, não significa optar por produtos de qualidade inferior. Na opinião da advogada Daniela de Carvalho Guedes Bombini, 37 anos, grávida de oito meses de Beatriz, vale a pena investir um pouco além em itens mais bem acabados, mas que terão maior durabilidade.

“Estou na minha segunda gestação e não precisarei gastar tanto porque vou aproveitar muitas coisas da minha primeira filha”, ensina ela, que é mãe da pequena Clara, 4 anos. Além do reuso do mobiliário e roupinhas do primogênito, a gestante também reduz gastos porque ganha uma infinidade de presentes não apenas no dia do chá de bebê, mas durante todo o período de gravidez.

“Ganhei carrinho de passeio e de transporte, banheira e bastante roupa. Até os primeiros meses de vida da criança, ganha-se muitas coisas, mas não dá para pensar que os presentes vão suprir todas as necessidades. O gasto maior fica mesmo com o casal”, considera a advogada, que calcula ter despendido cerca de R$ 5 mil durante a segunda gestação somente com itens para a herdeira que está a caminho.

Mas, além de estabelecer organização financeira, as futuras mamães precisam estar preparadas para uma mudança profunda de vida. É o alerta da médica Juliana Bozola Bosi, 37 anos, mãe de João Victor, 4 anos, e João Pedro, 2 anos. De acordo com ela, a rotina do dia a dia nunca mais é a mesma depois que uma mulher passa a ter a responsabilidade de cuidar de um filho.

“Antes, eu podia ir ao cinema, ao restaurante, à academia no horário que eu bem entendesse. Podia dormir até as 10h, ver televisão, fazer cursos fora de Bauru. Hoje, não dá para fazer mais nada, mas não tenho do que reclamar. Essa privação é ótima. Ser mãe, sem medo de errar, é a melhor experiência que uma mulher pode ter na vida”, afirma.


“Mãe não mede amor”

Embora o cálculo aproximado de despesas exclusivas de uma gestação seja em torno de R$ 15 mil, as mães entrevistadas pelo JC revelaram não ter a exata noção do quanto gastaram durante os nove meses de gravidez. Isso porque, segundo elas, a expectativa com a chegada da criança é tamanha que o dinheiro investido no período acaba não sendo contabilizado.

Proprietária de uma loja de móveis, decoração e roupas infantis da zona sul de Bauru, Luciene Lopes Ronchesel comenta que, por mais que as futuras mamães tentem controlar o volume total de custos, normalmente gastam muito mais do que um eventual orçamento programado no início da gestação. Mesmo, assim, ela – que também é mãe de dois filhos - recomenda que as grávidas adaptem os anseios às suas condições financeiras concretas.

“A gente sabe que mãe não mede amor e desejar o melhor para o filho é algo natural. Cada uma vive uma experiência diferente durante a gestação e é claro que é preciso bom senso. Mas a verdade é que, se ela tiver R$ 30 mil para gastar com a criança, certamente ela irá gastar”, considera.

Mas, para que a declaração de amor em forma de consumo não implique no risco de entrar no vermelho, são necessários ajustes no orçamento, com corte de custos supérfluos do casal e estabelecimento de prioridades. “Do contrário, não tem como não estourar o cartão de crédito. É preciso responsabilidade, mesmo porque os gastos depois do nascimento, embora sejam outros, também não são pequenos”, orienta a advogada Daniela Bombini.

Depois de nascidos, as mães calculam que os filhos passem a custar cerca de R$ 1,8 mil ao mês, incluindo todas as despesas, como escola, vestuário, plano de saúde, alimentação e lazer. Nesta fase, mais uma vez, o planejamento precisa ser posto em prática, conforme avalia a nutricionista Larissa Gobbi. “Até porque, em família, uma simples saída ao cinema, incluindo pipoca, refrigerante e entrada, não sai por menos de R$ 70,00. Ser mãe é caro, mas não é maravilhoso”, comenta.