terça-feira, 16 de agosto de 2011

Susana Vieira e as histórias de seus 300 sapatos


No seriado Cinquentinha
, de Aguinaldo Silva, que estreia em outubro na Globo, a personagem de Susana Vieira é uma diva que tem 300 pares de sapatos. Aguinaldo nunca entrou nos armários da atriz mas, por coincidência ou intuição, ele acertou. Susana confirmou ao Mulher 7×7 que seus closets contêm três centenas de pares de sapatos e que seus favoritos são as “sandálias desnudas e altas, com cores fortes”, além das botas pretas. Sua maior loucura, da qual se arrepende, foram as botas de 1.600 dólares que estão na foto e que comprou em Nova York, com pelo de vison: “Nunca usei”.
Sapatos costumam ser apontados como uma das maiores obsessões femininas – e pés de mulher são considerados um dos fetiches dos homens. Enfim. Existem figuras como a de Imelda Marcos, a ex-primeira-dama das Filipinas que ficou conhecida como a mulher de 3 mil pares de sapatos, mas depois desmentiu. Disse que tinha “apenas” 1 mil e 60.
As Imeldas são muito raras e doentias, mas sapatos costumam pregar armadilhas em mulheres comuns e inteligentes com mais frequência do que imaginamos. Você já viveu alguma dessas cenas?
1) experimentar um monte de sapatos antes de sair para uma festa;
2) achar que não tem nenhum sapato que valorize a roupa, isso na última hora;
3) bater perna numa viagem, olhando as vitrines em busca de mais um par de botas – isso pode causar brigas com o marido ou o namorado, que não consegue compreender a compulsão;
4) comprar um super desejado par de sapatos e abandoná-lo no dia seguinte porque machuca os dedos ou o salto é alto demais.
Na conversa com Mulher 7×7, Susana admite ter mais sapatos do que usa ou precisa. Revela quais são seus designers favoritos, diz que só sai de casa de salto alto, e conta qual foi seu maior trauma com sapatos.
Mulher 7×7 – Você é louca por sapatos, como a maioria das mulheres?
Susana Vieira – Ainda bem que você falou em maioria das mulheres, senão eu iria fazer análise. Acho que essa loucura é meio recente, começou há uns 20 anos no máximo. Sou de uma geração que ia para a escola de Vulcabras, um modelo sem glamour nem sex-appeal, era quase um coturno, um sapato obrigatório nas escolas públicas. Meu pai era muito severo também. A gente nunca foi muito ousada enquanto estava sob a rigidez de meu pai. Eu não tinha tantos pares de sapatos antes.
- Sapatos são uma obsessão feminina, talvez o item mais cultuado no vestuário das mulheres?
- Não sei por que nem como, mas sinceramente ainda vou estudar. Acho que todas as marcas e os fabricantes de sapatos piraram e hoje mexem com a nossa frescura, vaidade e futilidade. Enquanto os sapatos eram pretos, marrons e beges, era diferente. Nunca tive sapato bege, acho uma cor frágil, uma cor que não é, não existe. Quando se começou a ousar com sapatos, surgiu no Brasil o Fernando Pires, com suas cores e designs. Outro dia comprei uma sandalinha havaiana que era para custar R$ 17, mas, com todos os adereços, borboletinha de strass de R$ 35, cristais Swarovski, acabou em R$ 112, numa lojinha em Búzios com dez metros cúbicos de havaianas e adornos. No momento que eles começaram a enfeitar os sapatos, a gente deu uma enlouquecida.
- Salto alto é mais sexy?
- Eu sou do tempo de teatro de revista, fui acostumada a descer escadaria de salto alto, aos 16, 17 anos na TV Tupi eu fazia personagens mais velhas e fui criada de salto alto. As meninas de hoje, na hora de botar o salto, não sabem se equilibrar. Altura de salto me dá realmente mais segurança. Eu adoro as rasteirinhas, são uma graça, tenho uma prateleira inteira. Mas não consigo sair com a rasteirinha. Fico em casa com ela, vou até a cozinha, dou uma ordem para a empregada. Mas, quando entro no Pajero, já estou de salto. Acho que sandália rasteira abaixa a gente, engorda, não consigo lidar com as rasteirinhas fora de casa, embora as ache um charme. Fico de postura mais correta com salto alto.
- Os homens reparam?
- As sandálias mais nuas dão uma feminilidade a mais, os homens reparam muito em mulher com salto alto. Uma mulher com salto alto é óbvio que os homens acham mais sexy, quase cachorra, sabe, no bom sentido. Eu faço o teste aqui em casa. Chamo a Ione, minha cozinheira, a Cida minha empregada e a Rosana minha secretária. Entre uma bota, um sapato baixo e uma sandália de saltão, elas preferem a última, acham que estou divina. E aí, pronto. Neste momento já estou vestida para ir ao banco e estou com uma sandália lindíssima, vermelha, da Datelli, fingindo um jacaré que morreu ensanguentado. E olha que não vou pedir empréstimo não (risos).
- Quais são seus designers favoritos?
- Gosto do Fernando Pires porque ele praticamente reinventou essas sandálias tipo plataforma, Carmen Miranda. E as cores dele são incríveis. Toda vez que vou a Nova York, também vou às sapatarias de lá, porque elas são mais loucas do que a gente. Tem a Aldo, com sandálias muito ousadas, que eu adoro. E tem o Sérgio Rossi, um italiano que vende sapatos completamente diferentes do que a gente vê aqui no Brasil.
- Quando uma mulher compra sapatos, é roubada levar o homem junto?
- Nenhum homem gosta de fazer compra com mulher e eu dou razão para eles porque a gente fica mais livre sozinha. Não há necessidade de a gente perguntar se eles gostam ou não no momento da compra, seu, individual, O máximo que você pode fazer é nunca mais usar aquele sapato porque seu homem não gostou.
- Quantos pares de sapatos você tem?
- Bem, eu tenho dois closets, um dentro do meu quarto e um fora. Ganho muitos sapatos também. A minha secretária acha que eu tenho uns 300. O Aguinaldo (Silva) não entrou no meu armário mas acho que ele acertou, tenho tantos sapatos quanto a personagem que vou fazer no seriado. Eu não uso os 300, claro. Há sapatos muito altos, que eu acabo não usando por causa de conforto. Eu ando na rua o dia inteiro, faço ginástica, vou ao shopping, almoço, dentista, faço estética, ou faço análise, supermercado, feira, enfim. Mas procuro andar sempre de salto, acho bonitinho.
- Quais são seus favoritos?
- Tenho uma sandália alta e verde da Datelli, tenho uma vermelha da Nativa. Esta é uma marca popular que tem umas sandálias bem criativas. Tenho uma sandália Havaiana toda bordadinha, com florzinhas azuis. Quanto eu estou muito cansada, querendo estar relaxada, vou com Anabela, acho que fica meio pesada, mas mesmo assim coloco uma anabelinha no banco do carro.
- Você já se arrependeu de ter comprado algum par de sapatos?
- Tenho uma bota que eu comprei por 1.600 dólares no Sérgio Rossi, e foi a maior loucura da minha vida. Porque eu entrei na loja e veio o vendedor, na 5a Avenida, dizendo ah, mais uma atriz brasileira vindo nos prestigiar, aqui vem muito a Claudia Raia, a Hebe Camargo e aí eu disse, “que delícia, estou na minha loja”. Eu falei “quero o mais ousado de todos”. Era uma bota no meu número, 36, mas muito pequena, e um pelo de vison, glorioso, um escândalo, mas não consegui usar. Só comprei porque quis me mostrar para a Hebe. E nunca usei, era ousada demais pra mim. Faço uma linha mais normal e mulherzinha. Não vejo nenhuma ocasião para sair com ela e é muito alta. Não tem plataforma, o salto é 15 e deixa o pé muito arqueado. Aí, é um dinheiro muito alto para tirar uma foto.
- O que você faz quando quer se desembaraçar de algum sapato?
- Chamo a Rosana, que, além de secretária, é minha personal stylist. Ela tira do meu guarda-roupa tudo que ela acha que já usei e está velho. E ela faz isso quando eu viajo, quando vou para Miami na casa dos meus netos. Porque, se eu estiver perto, digo “ah não isso eu vou usar”. Ela faz uma trouxa e doa para o Retiro dos Artistas. Mesmo que as velhinhas de lá não usem salto alto, sempre terão uma filha, cunhada, uma irmã. Inclusive, dizem que é uma limpeza também para a alma a gente se desfazer de umas coisas no guarda-roupa.
- Há sapatos seus que você usa até acabar?
- Tenho um tênis da Ed Hardy, uma firma americana, que eu uso para ir a minha aula de alongamento pela manhã, vestida de malha, esse eu vou usar até acabar. Tem bota minha preta que eu uso até a Rosana achar que ela deveria estar morta há muito tempo. As botas pretas simples, quando mais velhinhas, ficam mais gostosas.
- É verdade que, por mais pares de sapatos que uma mulher tenha, ela sempre acredita precisar desesperadamente de algum outro na hora de ir a uma festa?
- Não, eu tenho consciência plena de que não estou precisando. Sei que não é uma necessidade, que é supérfluo, sei que é até uma espécie de compulsão bem comum. Mas as compras também são feitas para alegrar, para satisfazer a pessoa, para dar emprego aos lojistas. O sentido é maior do que uma obsessão. Isso acontece com todas as classes sociais. Quem é rico vai para Paris. E quem não é, há milhões de sapatarias no Brasil muito boas, com produtos ótimos. Hoje em dia não tem mais o preconceito da moda, não serve apenas o sapato usado pela pessoa mais rica. Podemos comprar sapatos de R$ 150, mas há sapatarias lotadas que vendem a R$ 20 ou R$ 30. Vou muito na Espaço dos Pés, que tem sapatos ótimos. E também na Nativa. Encontro metade do Rio de Janeiro comprando, balconistas, maquiadoras, manicures, elas ficam felicíssimas de me verem lá. Hoje, toda mulher brasileira compra muitos sapatos, tornou-se um produto acessível, democrático. Claro que não estou falando das muito pobres.
- Você segue a moda em sapatos (bico, cor, salto) ou vai mesmo por seu gosto pessoal?
- Não sigo porque nem existe mais uma regra. Sapato de bico finíssimo machuca muito os pés e não vou usar. Bico redondo eu acho feio, esse tipo que está se usando, de bailarina. Eu continuo na minha tradição. Sandálias altas e mais desnudas ou botas.
- Em relação à origem, nacionalidade, você tem preferência?
- Fico muito passada quando eu compro sapatos lá fora, por exemplo na Aldo, e vejo que são made in brazil. Ou seja, nós fazemos sapatos excelentes, mas os muito bonitos e bons vão pra fora. Compro botas no exterior made in brazil que não encontro aqui. Mas, entre os designers, os italianos são impagáveis para tudo. Dão de dez em design de mobília, de carro, de roupa, de sapato.
- E a arte de combinar sapatos com roupas?
- Não estou nem aí, para nada disso. Mas sou da época da bolsinha com pochette e Melissinha. Não vou esquecer porque tenho 67 anos. Então eu passei pela década de 50, de 60, de 70, 80 e 2000. Já combinei muito Banlon com bolsa e sapatinho. Realmente, no Rio de Janeiro eu me libertei. Uso a mesma bolsa chique para enterro, praia, qualquer lugar. Daqui a pouco eu mudo. Atualmente estou com uma bolsa da Victor Hugo de tecido da Indonésia, vou pra tudo que é lugar com ela. Quando enjoar, posso usar uma de fazendinha até para casamento. Uso a bolsa sem combinar com o sapato nem com a situação.
- Você tem alguma história particular em sua vida que envolva um certo par de sapatos?
- O maior trauma foi quando fui ser comissão de frente do Salgueiro e o Regis Cardoso, pai de meu filho, era presidente da escola. Ele fez uma ala de atrizes na comissão de frente, com coreografia e tudo. Estávamos juntas eu, Marilia Pêra e mulheres enormes e lindas como a Isis de Oliveira, Luma de Oliveira. Na hora em que eu pisei na avenida, o salto quebrou. Fiquei apavorada, pedi socorro à Marília, ela pegou meu outro sapato e quebrou o outro salto também. Eu me senti baixíssima, e desfilei em cima de meus dedinhos do pé. E tiramos 10 na comissão de frente. Desfilei com o glamour todo da cintura pra cima e com muito esforço. Eu estava complexada junto àquelas belas altas e deslumbrantes. Depois desse trauma com sapatos, seguro qualquer um.
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Ruth de aquino é colunista de ÉPOCA, morando atualmente na Europa.