domingo, 14 de agosto de 2011

Suíça é segundo maior mercado para artes brasileiras

O mercado de artes plásticas contemporâneas vive um período de franca expansão de suas exportações. A grande novidade é que a Suíça já aparece como o segundo principal destino internacional das obras de arte brasileiras, atrás somente dos Estados Unidos.


Os efeitos da insistente crise financeira internacional que inibe negócios e prejudica diversos setores da economia há quase três anos estão sendo sentidos com menor intensidade no Brasil do que em outros países, mas um segmento da balança comercial brasileira em especial parece ignorar os tempos difíceis.

De acordo com um levantamento realizado pela Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), em cinco anos as exportações de quadros, esculturas, gravuras e colagens, entre outros itens da arte contemporânea brasileira, cresceram impressionantes 500%, passando de um valor negociado de US$ 1,9 milhão em 2005 para US$ 10,04 milhões em 2010.

A maior parte dos negócios nesse período foi realizada com os EUA (US$ 4,6 milhões), mas a Suíça surpreendeu os analistas do mercado de artes com o segundo lugar (US$ 1,8 milhão), à frente do Reino Unido (US$ 1,7 milhão) e da Espanha (US$ 559 mil).

Segundo a Apex-Brasil, uma das explicações para o incremento das vendas para a Suíça pode ser a crescente participação de galerias e expositores brasileiros na conceituada feira internacional de artes Art Basel, realizada anualmente no cantão suíço da Basiléia.

Ao lado das feiras Bienal do Mercosul e SP Arte (Brasil), Frieze (Inglaterra) e Armory Show (EUA), o evento suíço integra o calendário do Projeto Brasil Arte Contemporânea, que organiza a participação das galerias brasileiras nos principais eventos do setor.

“A participação em feiras, exposições e missões internacionais tem atraído o interesse de um público que desconhecia o potencial artístico brasileiro. Isso ajudou a melhorar o perfil exportador do setor de arte contemporânea”, avalia o presidente da Apex-Brasil, Maurício Borges. O incentivo a essa participação internacional, segundo a agência, faz com que 25 empresas brasileiras sejam hoje exportadoras de artes plásticas contemporâneas. Vinte delas exportam de forma constante, participando de pelo menos uma feira internacional por ano.


Art Basel

A importância da Art Basel é atestada por algumas galerias brasileiras que já participaram da feira na Suíça. A galeria A Gentil Carioca, que já expôs na Basileia em três oportunidades (em 2008, com o artista plástico Thiago Rocha Pitta; em 2010, com Maria Nepomuceno; e em 2011, com Paulo Nenflidio) é uma delas: “Costumo dizer que a feira de arte é o palco do galerista e do colecionador, e a Art Basel cumpre perfeitamente esse papel. Apesar de situada na Suíça, um país com um público consumidor relativamente pequeno, é a feira mais importante do mundo e atrai críticos, curadores e colecionadores de toda parte”, afirma Marcio Botner, sócio-fundador da Gentil Carioca.

A galeria paulista Luisa Strina, por sua vez, participa da Art Basel há 20 anos e também tem um carinho especial pela feira de artes suíça: “O que torna a Art Basel uma feira mais interessante do que todas as outras é o afluxo de pessoas. A freqüência é feita por pessoas que realmente têm algum vínculo com o mercado de arte, como colecionadores, curadores e artistas. Outras feiras como Miami, Paris ou Londres, com duzentas exposições acontecendo ao mesmo tempo, talvez não atraiam tanto as pessoas que estão absolutamente focadas em compra ou em pesquisa, coisa que a Art Basel faz”, avalia Mariana Teixeira de Carvalho, produtora de arte da galeria.

Mariana avalia que a feira na Suíça é um excelente espaço para a exposição de trabalhos menos comprometidos com uma comercialização fácil: “A galeria Luisa Strina tem um perfil de artistas com uma linha um pouco mais conceitual, e na Basileia a gente mostra exatamente isso, cem por cento a cara da galeria. Talvez em uma outra feira a gente fizesse alguma adaptação para o público que frequenta, priorizando artistas que teriam uma entrada maior em determinados mercados. Na Art Basel, isso não acontece”, diz.

Público diverso

Outro aspecto positivo do evento realizado na Suíça ressaltado pela produtora de arte é seu caráter internacional, que permite um melhor contato com novos mercados e compradores de todos os pontos do planeta: “A feira Art Basel nos possibilitou ampliar a nossa presença na Ásia, que é o futuro para o mercado de obras de arte. A China, por exemplo, é um mercado novo onde muitas galerias europeias e americanas não têm entrada. Ainda existe um caminho muito grande a se percorrer para a população chinesa se acostumar com uma feira de arte que não seja chinesa ou asiática, mas a presença deles na Basileia facilita esse intercâmbio”.

É difícil quantificar em detalhes as vendas de obras de arte contemporânea brasileiras para a Suíça, uma vez que a Apex-Brasil não realiza esse levantamento e os dados relativos, por exemplo, aos artistas vendidos e aos cantões (estados) suíços para onde as obras foram negociadas pertencem a cada galeria.

Segundo Marcio Botner, da Gentil Carioca, a maior parte das obras vendidas à Suíça pela galeria são destinadas aos cantões de língua alemã, com destaque para Zurique e Basileia. Ele ressalta o perfil variado do comprador suíço: “A diversidade na Suíça é grande. Recentemente, por exemplo, para um suíço vendemos uma fotografia e para outro uma escultura de 6 metros toda feita de latão”.
Fonte: Maurício Thuswohl, swissinfo.ch