domingo, 14 de agosto de 2011

Roberto e o filho de 14 anos driblam preconceito em busca da felicidade / Foto: Arquivo Pessoal

Amar independe do sexo, diz pai homossexual

Roberto Menezes Oliveira disse que o segredo para a felicidade é assumir que se é uma família, mesmo que diferente da maioria

A adoção por homossexuais no Brasil ainda é discriminada pela população. Dados do Ibope, divulgados no último dia 28 de julho, revelaram que 55% ainda são contra. No entanto, segundo a psicóloga Soraya Pereira, presidente da ONG Aconchego, para adotar “é preciso apenas que o cuidador garanta o carinho e a segurança que uma criança necessita”.

Roberto Menezes de Oliveira, psicólogo e professor da Universidade Federal de Goiás, adotou seu filho em 2002 – o menino tinha cinco anos na época. “Foi quando eu me senti pronto para assumir o desejo de ser pai”, afirmou.

No entanto, as coisas não foram tão simples. De acordo com Soraya, para conquistar o direito de adotar “é preciso que os pais tenham segurança e tranquilidade para lidar com a opinião contraditória da sociedade”.

“A maior dificuldade é a desconfiança de que um homem sozinho não pode criar um filho. Este preconceito me acompanhou em todas as etapas”, disse Oliveira. Para conquistar a segurança necessária, o professor participou do Pré-Natal da Adoção da Vara da Infância e da Juventude de Brasília, além de um projeto da ONG Aconchego. “Ambos os serviços me ajudaram muito no esclarecimento sobre o desejo de ser pai por adoção”, explicou.

Amar independe do sexo

Depois da adoção, as dificuldades, de acordo com Oliveira, estavam em “mostrar para os outros que é possível ter uma família sem a presença de uma figura materna presente”.

“Esta expectativa torna-se quase uma imposição, o que leva a diferença ser sentida como dificuldade. Mas após reflexão e conversa, percebemos que é possível crescer sem a figura física de uma mulher”, relatou.

Segundo a psicóloga Soraya, “se a criança sabe desde o início da escolha afetiva do pai, vai aprender a lidar com a diferença”.  “Ela vai questionar, mas vai entender”.

“O importante é que se desempenhe bem o papel de acolhimento que é atribuído à mãe/mulher. Quer dizer, amar, acolher, nutrir, dar colo, pode ser feito por qualquer pessoa, independente de seu sexo biológico”, afirmou Roberto.

Driblando o preconceito

De acordo com o professor universitário, a melhor forma de driblar o preconceito e ser feliz é “vivendo”.

”Independentemente do que as pessoas pensam, eu e meu filho estamos trabalhando, estudando, amando, constituindo amigos. Quando as pessoas veem que estamos felizes, percebem que é possível, sim, ser uma família diferente da idealizada, tradicional, sem que isto implique em prejuízos, sofrimento”, explicou  Roberto.

Em um Dia dos Pais diferente, a família Oliveira está completa. O que Roberto espera de presente? “Do filho, um beijo, um abraço e um ‘bom dia papai’. Socialmente, o respeito pelas minhas escolhas, diferenças. O respeito pelo meu filho, pela minha família, frutos destas escolhas”.