quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Mayana Neiva: “Quero ganhar as rugas que a vida vai me dar
No ar como a cômica Vicentina de “Cordel Encantado”, a atriz diz não ser obcecada por dietas e rejeita rótulos de beleza
Rafael Molica; Fotos Matheus Cabral e
Alex Carvalho/TV Globo e Divulgação
Divulgação
Mayana Neiva lançou recentemente o livro "Sofia"
Após conquistar o público na pele da cativante Desirèe em “Ti-ti-ti”, Mayana Neiva tem se deparado com um novo desafio: viver a atriz de cinema mudo Vicentina em “Cordel Encantado”. Por conta do novo trabalho, a atriz não desgruda da TV quando a novela é exibida e gosta de acompanhar a tudo com atenção. Prova disto é que a estrela concedeu uma entrevista à QUEM apenas após um dos capítulos do folhetim de Duca Rachid e Telma Guedes.

Formada em artes cênicas pela Universidade de São Francisco nos Estados Unidos, Mayana conversou sobre os bastidores de “Cordel Encantado”, colegas que a inspiram, beleza e vida pessoal. Apesar da agenda cheia de projetos, na TV, no cinema e na literatura infantil, Mayana afirmou que dá tempo para se apaixonar e cuidar do coração.

“Ai, dá. Meu coração está... Prefiro não falar disso”, disse aos risos, discreta. “Mas estou bem. Realmente, você vai para um lugar, vai para outro. Desloca a gente. Eu acho que o bom e o certo vão acontecer. Estou focando no que a vida está me trazendo. Se me trouxer um amor, vai ser maravilhoso.”

Romântica, a atriz procura não buscar a pessoa perfeita e diz aguardar pelo encontro com alguém especial. “Acho que não existe uma pessoa ideal. Acho que existe um encontro muito revelador. Eu amo quando a vida me traz esses encontros. Isso, para mim, é a razão de eu estar viva. É o encontro com a Marina, minha sobrinha, que me trouxe este livro [“Sofia”, que acaba de ser lançado], é o encontro com essa história na Argentina que me trouxe este personagem [do filme “Infância Clandestina”]. Os encontros é que me movem. Acho que é essa força de ser transformado pelo outro, provocando mudanças em você mesmo é muito mágico. O amor é um processo onde isso acontece continuamente, né!? Isto é muito interessante.”

Mayana listou algumas características que geralmente a conquistam. “Primeiro, sensibilidade. Humor é uma coisa básica no ser humano. Humor, sensibilidade. Acho que são já muitas dicas”, disse, interrompendo a lista com risos.

 Rótulo
Dona de um visual de arrancar suspiros, Mayana vê a beleza como algo passageiro. “Acho que ser bonito está nos olhos de quem vê. Acho que ser bonito é uma consequência. É claro que você tem que cuidar do seu corpo, seu corpo é instrumento de trabalho. Mas eu quero poder trabalhar fora desse padrão porque eu acho que ele tem prazo de validade”, contou ela que quer viver as mudanças no corpo que a vida lhe trará.

“Acho que eu quero ganhar as rugas que a vida vai me dar. Eu quero viver todas as coisas, eu quero passar por todas as fases. Eu não quero ficar presa a uma coisa que não é. Não é eterno. Eu acho que a busca, os bons encontros, os bons personagens, o bom trabalho são eternos. E a beleza não é. É uma coisa que está. E, às vezes, nem está para todos.”

Após deixar claro como pensa sobre o assunto, a atriz não fugiu da pergunta se faria alguma intervenção cirúrgica para retardar o processo de envelhecimento. “Não sei. Mais para frente vai ser mais para frente. Eu gosto de viver o hoje. Mas, por enquanto, eu não acho que na vida falte em nada. Eu tenho sempre esse exercício de parar de reclamar. Às vezes a gente reclama, né!? E olhar para o que a vida está te dando. Transforme aquela cisma em uma oportunidade. Transforme aquele olhar para outras coisas. Mais potente do que negar.”

Como algumas atrizes brasileiras e estrangeiras, Mayana acredita que alterações no rosto em nome da beleza, como a aplicação de botox, não são interessantes na hora de atuar e trabalhar a expressão. “Veja a Fernanda Montenegro, uma senhora, que é uma mulher incrível. Uma mulher bela, mulher bonita de se ver. Aquele olhar, aquele trabalho. Aquele grau de maturidade que ela se encontra. De rosto também”, disse ela sobre a atriz que muito admira. “Acho que a gente tem que se cuidar, tem que ser feliz. E a beleza não é, de longe, tudo mesmo. Não deixo de comer minha sobremesa por nada neste mundo. Não deixo de ser feliz...” 
Matheus Cabral e Alex Carvalho/TV Globo
A atriz na pele de Vicentina de "Cordel Encantado" (à esquerda) e como Desirèe de "Ti-ti-ti" (à dir.)

 Exceções na dieta
Se por um lado a atriz não é adepta das clínicas de cirurgia plástica, por outro, procura equilibrar na hora de encher o prato. “O vídeo engorda muito. Engorda quatro quilos. Quando estou trabalhando, tento comer menos porções, não como tantas. Mas, por exemplo, gosto de doce. O leite condensado, na minha vida, sempre me faz bem [risos]. Então não tem isso, não. Eu não deixo de ser feliz por causa de dieta não. Acho que dieta tem que ser uma sensação de viver. Comer frutas, comer verduras, comer coisas boas, fazer exercícios, mas também não deixar de viver.”
 Preparação e bastidores de “Cordel”
 Além de outros temas, a trama das seis ilustra de maneira divertida a transição do cinema mudo para o falado. Para tanto, a atriz tem se esforçado para dar vida à Vicentina, uma atriz do cinema mudo que foi convidada a fazer um filme de Brogodó (cidade fictícia onde é ambientada a novela) com falas. Até aulas de preparação vocal foram importantes para o processo de criação. “Ela tem uma voz horrível. A minha voz é grave e eu tenho que fazer uma voz... Trabalhei com a voz com fonoaudióloga. Fiz um trabalho... Foi muito louco. Tinha acabado de chegar de um longa na Argentina num domingo e comecei a gravar na segunda. Foi uma loucura”, disse ela que esteve em paralelo concentrada nas filmagens de “Infância Clandestina”. “Ela [Amora Mautner, diretora geral] sempre me pede mais, as autoras pedem mais com a voz.”

Durante o processo de criação, Mayana se inspirou no filme “Cantando na Chuva” e nas atrizes Jennifer Tilly e Dianne Wiest do clássico de Woody Allen “Tiros na Broadway”. Enquanto participa das gravações, a atriz tem observado com atenção os colegas de cena. “Tenho aprendido muito com o Osmar Prado, Alessandro Tcche, o [Marcos] Caruso, a Zezé Polessa. Como eles têm um estudo fonético, por exemplo. Eles estudam as falas do ponto de vista sonoro. Eles observam outros aspectos que eu admiro, que eu sou fã. A Heloísa Périssé é uma atriz sublime. Quando gravei com ela, não parei de rir um minuto. É de uma comicidade nata incrível.”

Além da voz, Vicentina tem dado um pouco de trabalho para Mayana também no camarim. “É muita roupa. Uma hora e meia, mas para tirar é mais fácil. Colocar é mais difícil porque o cabelo, as voltinhas do cabelo, é de 1910. O cabelo é todo desenhado. Ainda tem o chapéu. Colete por cima e ainda tem um espartilho que é apertado, com meia, bota... É um negócio que não acaba nunca”, disse ela, bem humorada, que afirmou ver todo o processo de sua personagem como algo prazeroso de se fazer.

Com duas tramas no currículo, Mayana confessou que gosta de assistir às novelas quando a agenda permite. “Acho que novela, às vezes, é uma coisa engraçada, é quase relaxante. Quando você diz ‘ah, eu vou ver uma novela’ parece que você vai passear por lugares da sua mente sem sair de lá, do sofá. Então, é uma coisa curiosa. Eu gosto de novela. Não toda novela. Saber fazer uma novela é uma arte. Eu acho que esta novela [‘Cordel’] o povo tem feito muito bem”, comentou ela que também citou outros trabalhos interessantes. “’Ti-ti-ti’, ‘Cordel’, ‘O Astro’. Tem coisas que estão dando certo. E tem as novelas eternas. ‘Roque Santeiro’. Me inspirei muito na Regina Duarte como Viúva Porcina para fazer a Vicentina. Todo aquele exagero da viúva. Aqueles brincos, tudo isso tem sido referência para a gente. Aquela coisa toda over, aquele blush inesquecível. Aquele grito [imitando a personagem]. Ai, eu amo, assisto sempre a ela no canal Viva [atualmente, a trama é reprisava no canal].”
Alex Carvalho/TV Globo
Alexandre Slaviero, Mayana Neiva, Caio Castro (de costas) e André Arteche (à direita)
Após trabalhar com nomes que admira como Claudia Raia e Elisângela, Mayana citou outras pessoas com quem gostaria de contracenar no futuro. “Renata Sorrah. Eu amo ela. O Wagner Moura, claro. Porque são dois atores incríveis, dois atores que tem uma loucura deliciosa. Uma força de trazer o novo, uma força de ser inteiramente o novo. Eles têm marcas muito pessoais nos personagens.”
 Fama e reconhecimento
Apesar de ter atuado em minisséries como “A Pedra do Reino” (2007) e “Queridos Amigos” (2008), o assédio dos fãs e dos paparazzi só veio com mais intensidade após a Desirèe de “Ti-ti-ti”. Até hoje, admiradores costumam gritar o nome da personagem e o do par romântico (Armandinho, interpretado por Alexandre Slaviero), quando Mayana é vista na rua.

Durante a entrevista, ela também falou sobre a relação com a fama. “De uma forma, claro, a novela populariza muito mais. A novela entra com muito mais força do que as minisséries. É um fato. Mas, na verdade, eu sinto um carinho muito maior, que é muito grande, muito bom. Eu até falei uma coisa que fui mega mal interpretada. Eu nunca falei que nunca quis ser famosa. Eu falei que ser famosa tudo mundo quer... As pessoas podem ser famosas com qualquer coisa e por qualquer coisa imbecil. Ser reconhecido pelo seu trabalho que é bom. Era isso que eu sempre quis. Ser reconhecida. Quem não quer!? Acho que todo mundo quer, na verdade, ser reconhecido por um trabalho. Que é, na verdade, em última instância, uma troca. Eu dar e você receber; você receber e eu dar. E é isso que a gente quer. Do ano passado para cá, tenho sentido que esta troca aumentou, mas ela não muda a essência do meu trabalho em nada. Nem pelo prazer que eu tenho, pelo carinho que eu tenho de ir trabalhar como vou ao teatro, vou à TV. Eu amo meu trabalho. Isso não muda.”

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