Uma nova voz para o samba tradicional
Joyce Cândido, que há três anos trocou os palcos de Londrina por Nova York, volta ao Brasil com O Bom e Velho Samba Novo
Rafael CostaA sugestão foi de Chico Buarque. “Tentem recebê-la. O disco está bonito, ela gravou um Noel [Rosa]”, teria dito o compositor à gravadora Biscoito Fino, após ouvir o novo trabalho de Joyce Cândido. A recomendação deu certo: o recém-lançado O Bom e Velho Samba Novo traz a cantora de volta ao Brasil para tentar se firmar como intérprete do gênero. “Tive muita sorte de chegar num círculo bacana, difícil de entrar, mas foi acontecendo”, diz Joyce, que optou por trabalhar com o samba em suas formas mais tradicionais no novo trabalho.
Opinião
Sem pretensão e com poucos contrastesRafael Costa, repórter
O disco de Joyce Cândido, embora tenha recebido a ajuda de Chico Buarque e esteja sendo lançado por uma gravadora respeitada, não tem grandes pretensões – o que se confirma pela postura da cantora ao falar de seus objetivos artísticos. Sambas clássicos estão ao lado de composições de novos sambistas e de antigos parceiros. Os arranjos e produção, competentes, lançam mão da mais que familiar combinação de instrumentos como cavaquinho, violão, pandeiro, bateria e contrabaixo.
A ideia e realização musical de Joyce acontecem na roda de samba, quando a cantora percebe que a sua obra, fundamentada no lado mais tradicional da música brasileira, faz cantar e dançar. É um objetivo sempre legítimo, mas é possível afirmar a tradição em terrenos menos seguros e de forma menos literal. Joyce tem uma voz com timbre forte, mas bastante familiar. Sua técnica é segura, mas ainda deve permitir interpretações mais livres. As portas da frente estão abertas para a cantora se firmar com uma personalidade própria no mar de cantoras “do bom e velho samba”, que não faltam no cenário musical brasileiro. Mas os contrastes e a ousadia, em maior ou menor medida, podem ter mais espaço no universo de uma nova voz em ascensão. GG1/2
Serviço:
O Bom e Velho Samba Novo . Joyce Cândido. Biscoito Fino. Preço: R$ 34,90. Samba.
“Queria a linha sem inovação”, diz. “O que tenho prazer em ouvir é Noel, Pixinguinha, Cartola, coisas mais antigas. Tem várias cantoras fazendo releituras e sambas cheio de fusões. Eu acho legal, mas não é minha praia. Gosto de formação tradicional – pandeiro, violão, percussão”, diz Joyce, que contou com a produção de Alceu Maia para o novo disco. O repertório tem clássicos como “Feitio de Oração”, de Noel, e “Deixe a Menina”, de Chico, mas se baseia, principalmente, em novas composições.
Entre as inéditas estão “Humilhação”, de Hermínio Bello de Carvalho e Guilherme Sá, e “Sou do Samba”, de Maia e Xande de Pilares, do grupo Revelação. “A gente fez um apanhado de diversos compositores atuais que estão na ativa”, diz Joyce. “Quero fazer parte dessa nova geração de valorização do samba, que acho importante para nossa música. Tem muitos cantores gravando, e a gente precisa disso.”
Rodas
A relação de Joyce com a música brasileira tem raízes distantes. No conservatório de música onde estudou quando criança, em Marília (SP), era conhecida como “a menina do chorinho”. No curso superior de Música da Universidade Estadual de Londrina (UEL), optou por pesquisar a MPB, enquanto começava a entrar no circuito dos bares como cantora. Depois de participar de rodas de samba, musicais, apresentações ao lado de diversos músicos – em especial, o grupo Sambelê – e gravar o seu primeiro disco, Panapaná, Joyce foi para os Estados Unidos.
Em Nova York, dividida entre academias para a Broadway e a carreira ascendente, a cantora continuou a se aproximar do samba. “Esse trabalho agrada muito lá [nos EUA]”, diz. “Tenho muito a coisa da festa. É gostoso cantar para as pessoas cantarem junto, dançarem junto. Como artista, me sinto realizada. Quando vou cantar e a galera canta junto, é uma energia muito bonita. E o samba tem essa coisa, que é da nossa cultura. O samba traz muito disso. É uma arte popular.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário