domingo, 21 de agosto de 2011



Maria Alcina: As mulheres são malucas!
Cada cantora canta suas loucuras, diz a artista que se consagrou interpretando a música "Fio Maravilha"
Madson Moraes
Tempo de Mulher

Maria Alcina sabe que a vez agora na música é das mulheres


Maria é um dom, Alcina é uma certa magia

Esqueçam Lady Gaga e Madonna com suas roupas e maquiagens extravagantes. Maria Alcina veio antes de tudo isso com seu guarda-roupa cheio de boás de plumas e fantasias à moda Carmen Miranda. Tropicalista, intensa, enérgica, Maria é um dom, uma certa magia. Uma força que emergiu diante de um Maracanãzinho lotado cantando Fio Maravilha (música de Jorge Ben) durante o Festival Internacional da Canção de 1972. Era o tempo da censura, dos militares fardados ditando a moda, a música, a imprensa e os costumes. E nesse contexto eis que surge uma mineira franzina de Cataguases, com uma voz surpreendentemente potente que ecoou apoteoticamente pelo mítico ginásio que já tinha tido vencedores do calibre de Chico Buarque e Tom Jobim.

Da família de cinco irmãos, todos músicos, apenas Maria saiu para a lida e foi para o Rio de Janeiro onde fez carreira de sucesso. Rádio, na infância, era artigo de luxo. Por isso, Alcina ouvia na casa da vizinha, Dona Madalena. O tio, que era músico profissional, às vezes levava para a casa o contrabaixo que utilizava e ela, aos 11 anos, fugia da cama para, escondida de todos, bater as cordas apenas para ouvir o som. Mulher, naquela época, era para casar. Na verdade, ela não saiu de Cataguases para tentar a sorte no Rio. A música a levou e sempre serviu de conforto.

"Era uma época também que você cantava música nas escolas, coisa que hoje não tem mais. Era uma oportunidade que eu tinha porque na hora de cantar a minha voz, que é contralto, sobressaía. Eu era uma menina muito magrinha, raquítica, mas com uma voz potente", analisa hoje. Antenada, até comentou durante a entrevista sobre a recente morte da cantora Amy Winehouse. "Do jeito que ela foi, com 27 anos, é uma pouca possibilidade de vida. Dá uma tristeza, assim, comove", observa.

Maria Alcina sabe que a vez agora na música é das mulheres. E acompanha essa nova safra de cantoras que despontam no cenário musical. Para ela, cada cantora canta suas loucuras, as suas descobertas, bem diferente dos cantores que precisam sempre ter aquele coisa romântica. "As mulheres são malucas. A disponibilidade do canto masculino sempre tem o toque do romance e da sedução. Mulher não. Entra rasgando, parindo tudo. É lindo observar isso", avalia.

Alcina é daquelas cantoras que se jogam para a galera num processo de doação musical. Diferentemente dos irmãos, estudados na música, Alcina não teve tempo de ter esse preciosismo na carreira musical. Para a mulata de traços alegres, a música é sempre novidade. "A música sempre me encanta porque não fiquei presa a nada. Existe uma linha tênue de quem vai para a galera e quem fica no preciosismo. Acho que eu não tive tempo de ter esse preciosismo. Na verdade, eu fui saindo de casa por uma questão pessoal, com a música me dando conforto. Eu saí muito cedo de casa, não conhecia nada, saí por causa da música e ela foi me confortando", afirma.

Tão logo terminada a entrevista, passamos pela redação para uma sessão de fotos na loja Banana Music Store e advinha quem cantava na TV? Elis Regina, uma das grandes influências da cantora. "É um sinal", disse ela com seu sorriso gratuito no rosto. Sobre a evolução da mulher desde a sua época até hoje, Maria Alcina é categórica: muitas lutas já foram vencidas e existem outras para vencer.

"A independência da mulher está cada vez mais aflorada e visível com elas se posicionando cada vez mais. Não é algo de ficar em casa imaginando, elas estão conquistando, estão colocando seus sentimentos. A mulher está cada vez mais se posicionando nas suas conquistas", enxerga a cantora. Inquieta musicalmente, para ela o importante é viver.


Maria Alcina - A carreira
De Carmen Miranda à música eletrônica
Madson Moraes

Alcina vence 3 categorias do Prêmio da Música 2009: Melhor Cantora, Melhor CD e Melhor Produtor de CD


O primeiro prêmio de Maria Alcina como cantora foi no 1º Festival Audiovisual de Cataguases, algo revolucionário para a época. Levou o prêmio de revelação. Antes do sucesso de Fio Maravilha, Alcina gravou dois compactos: "Mamãe Coragem" (Caetano Veloso) e "Azeitonas Verdes" (Marcus Vinicius), ambos pela Continental. Ney Matogrosso e Secos & Molhados só apareceriam anos depois.

Anos 80 & 90

Maria Alcina lançou músicas de João Bosco e Aldir Blanc, Eduardo Dusek e Rita Lee. Passou pela obra de Noel Rosa e reverenciou as divas do rádio. Na década de 80, o furação de plumas e fantasias voltaria agora com repertório novo com músicas do folclore. "Prenda o Tadeu", "É mais Embaixo" e "Bacurinha" estavam no álbum Prenda o Tadeu, de 1985.

Em 1995, um convite de Nelson Motta a colocaria novamente no ouvido das pessoas. Ela gravou "Alô, Alô" no CD tributo a Carmen Miranda junto a nomes como Gal Costa, Marisa Monte, Maria Bethânia, entre outros. O projeto deu tão certo que ela foi para Nova York e, na Terra do Tio Sam, Maria Alcina mostrou um pouco da sua brasilidade e gingado com a voz grave.

Anos 2000

Em 2000, voltou a assumir o posto de jurada do programa Ed Banana, na TV Record, além de continuar a trabalhar no programa de Raul Gil. Também apresentou o show "Alma Feminina", em que continuou reverenciando o repertório de grandes cantoras como Elis Regina ("Tiro ao Álvaro"), Clara Nunes ("A Deusa dos Orixás"), Dircinha Batista ("Periquitinho Verde" e "O Primeiro Clarim") e Dalva de Oliveira ("Bandeira Branca"), além de Carmen Miranda.

Outro ressurgimento foi o minifestival "Com:tradição", organizado pelo jornalista Alex Antunes, que reuniu novas bandas e criou encontros entre diferentes gerações. Maria Alcina foi colocada ao lado do quarteto eletrônico Bojo (Maurício Bussab, Kuki Stolarski, Du Moreira e Fe Pinatti) e o encontro foi tão bem sucedido que logo gravaram um disco. No CD Agora (2003, Outros Discos/Tratore), Maria Alcina se divertiu no som eletrônico do quarteto com um repertório que alterna músicas da própria cantora e algumas músicas do grupo.

Em 2009, a cantora lançou o CD Maria Alcina Confete e Serpentina, onde recria clássicos e lança canções inéditas. Esse trabalho foi vencedor duas categorias do Prêmio da Música Brasileira: Melhor Disco de Música Popular (Confete e Serpentina) e Melhor Cantora de Música Popular.




Tempo de Mulher pergunta e Maria Alcina responde
Por onde canta Maria Alcina?
Madson Moraes

Créditos: Feco Hamburguer


O ano era 1972 e mais um Festival Internacional da Canção acontecia. Os concorrentes eram gigantes. Diálogo, de Baden Powell e Paulo césar Pinheiro e Let me sing, de Raul Seixas, eram os concorrentes dessa edição. Surge, então, uma mineira franzina de Cataguases, região de Minas Gerais, para sair vencedora com a canção Fio Maravilha, de Jorge Ben.

Ainda no começo da carreira, Maria Alcina foi censurada pelo Regime Militar por seu comportamento atípico. Foi proibida de aparecer nos programas de TV e suas músicas banidas das rádios. Aquele ano foi, certamente, o mais difícil da carreira."Fica uma marca muito grande depois que tudo passa. Fica uma coisa de você ser uma pessoa inconveniente. E eu de vez em quando chuto o pau da barraca porque eu sou maluca!", diz aos risos.

O riso, aliás, é uma das marcas registradas de Maria Alcina que, durante a entrevista ao Tempo de Mulher, falou de como a música a guiou para o Rio de Janeiro, da relação com Carmen Miranda e dos altos e baixos da carreira.DO"

Quem é Maria Alcina?

Bicho, boa pergunta... Bicho é ótimo, né? Parece brincadeira eu responder assim. A gente não sabe quem é porque nós estamos em transformação. Quando eu fiz 60 anos de idade, eu fazia um show com Carlos Careca [cantor e compositor]. Aí eu cheguei para fazer um trabalho com ele que falou: "Alcina, você faz uma performance comigo?". Eu nem perguntei o que era e disse que fazia. Ele estava lançando o CD dele e eu participando. Então, ele falou: "você vai ler esse manifesto aqui". Comecei a ler o manifesto no palco. Quando eu olho, tinha uma pessoa com cabeça de cavalo ao meu lado. Achei aquilo fantástico. Aí eu cheguei em casa e pensei: "Nossa, estou fazendo 60 anos de idade. Agora que eu estou começando minha carreira". Nós somos pessoas em transformação. Eu acho que sou assim, mas eu me transformo muito devagar. Sou uma pessoa em status de transformação.

Qual a diferença entre a Maria Alcina que subiu ao palco do VII Festival da Canção em 1972 com a Maria Alcina de hoje?

É um caminho. Ali eu vim de Cataguases [Minas Gerais], onde eu cantava com os amigos, no coral da Igreja. Ali eu fui buscando e achando meus caminhos até chegar ao Rio de Janeiro, passar pelo [boate] Number One. Então, foi tudo um caminho. Quando eu vi, estava no Maracanãzinho cantando Fio Maravilha. Com 60 anos eu pensei: ainda nem comecei. Qual a diferença? Você vai modificando, apreendendo, conhecendo outras pessoas, outros ritmos, outras culturas. Sempre será assim. Quando eu tiver 120 anos vou falar a mesma coisa. É um processo de transformação pra melhor. O importante é viver. A gente vê uma morte como a da Amy Winehouse do jeito que foi, com 27 anos, é uma pouca possibilidade de vida. E comove, dá uma tristeza assim, porque comove.

Em que ano você chegou ao Rio para tentar a carreira musical?

Cheguei no final de 68. Eu ainda tinha 17 anos. Como eu disse, eu vim de Cataguases e já cantava por lá. Em todo lugar que tinha música eu cantava. No coral da Igreja, na escola. Participei do Festival de Cataguases, o 1º Festival Audiovisual. Por lá estavam Antonio Adolfo, Nelson Motta, Torquato Neto, Jards Macalé, outros jornalistas, compositores, foi um festival muito agitado, muito moderno e todos estavam lá. Eu participei da trilha sonora do filme O Anunciador - O homem das tormentas, cantando e tocando violão. A gravação dessa trilha iria ser feita no Rio de Janeiro. Eu cheguei ao Rio e tinha alguém gravando no estúdio. Eu precisava esperar para a gente poder entrar. E quem era que estava gravando? O Antonio Adolfo [compositor, arranjador e pianista]. Quando ele saiu, me encontrou e perguntou: você não é aquela moça lá de Cataguases? Eu disse que sim. Por que você não fica no Rio de Janeiro para tentar sua carreira, sua voz é bacana e tal? Resultado: fiquei e busquei um lugar para cantar. Trabalhei na Brazuca Produções, que era uma empresa do Antonio e vi todo aquele aparato de Tony Tornado para fazer a canção BR-3 [canção vencedora do Festival de 1970]. Eu servia cafezinho, tudo, só não queria ser secretária porque na hora de bater máquina, o som me lembrava música! (risos). Eu não queria ficar batendo máquina, queria cantar. Trabalhava durante o dia e à noite eu buscava lugar para cantar. Depois, fui trabalhar numa casa de uma amiga para ter um lugar para dormir, comer, essas coisas. Dois anos depois eu estava no Maracanãzinho cantando Fio Maravilha. Na verdade, eu não saí de Cataguases para vir tentar a sorte. Eu sempre cantei por lá e fui levada pela música.

Você não tinha rádio em casa. Quando veio a ideia de ser cantora e se dedicar à música?

Por isso que eu falo: a gente nasce. Meu pai ficou deficiente auditivo. Ele era músico da banda industrial de Cataguases. Então, meu pai batalhou para todos os filhos homens estudarem música nessa banda. Mulher não! Mulher era aquela coisa para casar. Meus irmãos todos são músicos. Mas quem saiu para a lida fui eu. Em casa, mesmo, não tinha rádio. Então, eu ouvia música na casa de Dona Madalena, nossa vizinha. Onde tinha música eu estava perto. Eu tenho um tio, também músico, que levava aquele contrabaixo grande lá para casa e o instrumento de vez em quando ficava lá. Quando estava todo mundo dormindo, eu ia lá e ficava batendo nas cordas. Batia numa corda do contrabaixo, botava o ouvido bem perto para ouvir o som da corda. Ninguém podia saber que eu tava mexendo. Isso eu devia ter 11 anos. Era uma época que você cantava música nas escolas, coisa que hoje não tem mais. Ali foi uma oportunidade que eu tinha porque na hora de cantar a minha voz, que é contralto, sobressaía. Eu era uma menina muito magrinha, raquítica, mas com uma voz potente.

Você lembra qual foi a primeira música que ouviu, parou e pensou: é isso que eu quero fazer?

Agora, assim, nesse momento não. Eu lembro que tinha uma música de São João que eu cantava toda vestida com um vestido verde que minha madrinha sempre me dava. Não lembro a música, mas sempre toda música me emocionou. Gosto de todos os gêneros porque não fui criada ouvindo xis coisas. Então, meu ouvido é sempre novo. Para ele, música é sempre novidade. Eu não fui criada com música. Não sou igual aos meus irmãos que sabem ler uma nota, apesar de que já está na hora de estudar. Eles tiverem mais oportunidade por meio de estudos, de leituras, de saber tocar um instrumento. Eu aprendo um pouquinho de violão e até virei professora de violão (risos). A música sempre me encanta porque não fiquei presa a nada. Existe uma linha tênue de quem vai para a galera e quem fica no preciosismo. Acho que eu não tive tempo de ter esse preciosismo não e tive que ir mesmo. Na verdade, eu fui saindo de casa por uma questão pessoal e a música foi me dando conforto. Eu saí muito cedo de casa, não conhecia nada, saí por causa da música e ela foi me confortando.

Se você fosse elencar as cinco maiores cantoras quem colocaria no hall da MPB?

Não faz essas coisas, não, que isso é sacanagem. Isso não se faz! (risos). Acho impossível no Brasil e no mundo inteiro. No Brasil, aliás, todos os dias tem uma cantora nova. É uma coisa maravilhosa. Eu presto muita atenção nisso. Acho que aparecem mais cantoras que cantores. O homem precisa ser mais romântico, ele é mais idealizado. As mulheres não. Têm posturas diferentes, recados diferentes, é maravilhoso. Por isso, é impossível escolher. Já minha relação com essas cantoras de rádio é porque eu fiz um show uma vez chamado Almas Femininas onde o Cervantes Sobrinho escreveu um show para mim onde eu homenageava as cantoras e trazia um pouco dessa coisa do rádio que eu ouvia na vizinha na infância, que era muito a Rádio Nacional. Era o programa da Marlene, Emilinha Borba etc. Eu vi um show da Emilinha uma vez aqui em São Paulo e, quando ela entrou, parecia uma santa. Era um endeusamento, muito lindo. Dava para você ver a história da Rádio Nacional que vinha junto com aquela entrada dela. Voltando para as maiores cantoras, acho impossível. Tem Mariccene Costa, por exemplo, que é uma cantora que quando eu a vi, no programa do Jota Silvestre, achei fantástica. Ela me revelou uma coisa moderna, um jeito de cantar que eu não conhecia. Outras cantoras também me influenciaram. Você vê a Gal Costa, por exemplo. Quando você ouve a Gal Costa dos festivais, ela era uma figura que trouxe para mim muitas informações para eu chegar na sequência. Acho que ela é uma cantora que precisa estar mais presente para cantar para nós ouvirmos. Ela continua, mas eu digo mais presente porque ela é uma escola. Elis Regina, Elza Soares, fantástica, que estava no programa do Danilo Gentili e cantou com o Ultraje a Rigor. Aracy Cortes, Vanusa, que tem uma voz única e quando eu a vi na TV ela se jogava no chão. Quando cheguei ao Maracanãzinho, eu trazia tudo isso.

E Carmen Miranda?

Carmen Miranda está intrinsicamente ligada ao meu trabalho. Eu regravei músicas do repertório dela com muitos sucessos. Aliás, vou fazer agora em outubro um espetáculo chamado Aquarela Mineira de Carmen Miranda trazendo os compositores mineiros da Zona da Mata que ela gravou. Esse é um projeto do meu irmão, Flávio Mendes, que é um apaixonado por música. Esse pessoal da Zona da Mata foi para o Rio de Janeiro. Fica parecendo que todo mundo era carioca. Ary Barroso, Alcir Pires Vermelho, Ataulfo Alves, são todos dessa região. É um trabalho que está me revelando coisas.

Os anos 2000 são a época mais frutífera para o surgimento de novas cantoras?

A cada dia que aparece uma cantora nova é muito revelador para quem já é profissional. No Brasil, sempre teve essa ebulição. As mulheres são malucas! (risos). Cada cantora traz uma mensagem da sua loucura, das suas descobertas. É muito interessante você observar as mulheres. Já o homem não, é sempre uma coisa romântica. Se bem que se você pegar o Cauby Peixoto ele representa tudo. A disponibilidade do canto masculino sempre tem o toque do romance, da sedução. Mulher não. Entra rasgando, parindo tudo. É lindo observar isso.

O ano de 1972 foi o mais difícil para você após ter sido censurada em todo o Brasil?

Acho que sim. Olhando bem, eu não sabia o que estava acontecendo, não entendia. Eu estava vivendo, curtindo a minha vida, até mesmo porque minha vida pessoal sempre esteve junto com minha vida musical. Tudo que eu não sei da minha vida pessoal vai esbarrar na profissional. É um caminho sem volta. Eu não tive oportunidade de fazer diferente. Então, naquele momento não tinha jeito: ou eu ia para frente ou parava. Olhando hoje e historicamente falando, ali em 1974 eu tenho problema com a censura. Liguei a televisão e fiquei sabendo que estava proibida em todo o território nacional. Eu tinha shows para fazer. Depois eu fui liberada. Fui considerada como atentado ao pudor e à família brasileira. Minha censura foi comportamental. Fica uma marca muito grande depois que tudo passa. Fica uma coisa de você ser uma pessoa inconveniente. E eu de vez em quando chuto o pau da barraca porque eu sou maluca! (risos). Mas já passou, lógico. Realmente você datou muito bem. É um divisor de águas e eu ainda estava no começo da carreira porque eu comecei em 72. Eu começo no auge da ditadura.

Você recebeu apoio da classe artística?

Sim. O Raul Gil, por exemplo, foi uma pessoa que abriu espaço. Ele fazia programa de calouro. Ali eu comecei. Ele me acolheu muito. Lembro bem isso na época. Mas recebi apoio também da família, embora ninguém tocasse no assunto. Uma vez, após isso ter ocorrido há certo tempo, eu estava fazendo um programa do Ney Gonçalves Dias. Fiz um ano o programa dele também de jurada. Bem, depois de tudo já passado, o Sargentelli um dia falou comigo que eu tinha sobrevivido muito bem, que eu estava legal, inteira. Também não se falava muito porque todo mundo estava ali sofrendo as pressões. Cada qual do seu jeito, mas ali o pau comia.

Como você enxerga a evolução da mulher da época até hoje?

Muitas lutas já foram vencidas e muitas ainda têm por vencer. A independência da mulher está cada vez mais aflorada e visível com elas se posicionando cada vez mais. Por outro lado, vejo que muitas mulheres querem liberdade para se expressar, vida independente, seguir seus sentimentos e estão sendo assassinadas. É um contraponto muito delicado que dá para perceber. A mulher está em dois polos muito delicados. Essa violência com a mulher é muito preocupante. Não é algo de ficar em casa imaginando, elas estão conquistando, estão colocando seus sentimentos. A mulher está cada vez mais se posicionando nas suas conquistas.
 

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