Entrevista da Semana: Mônica Rothberg |
Aos 45 anos, estilista e empresária conta como conseguiu realizar seus sonhos e constituir uma carreira de sucesso |
Neto del Hoyo-JCnet |
‘Descobri a minha felicidade aqui’ “Galopamos pela vida como artistas de circo, equilibrados em dois cavalos que correm lado a lado a toda velocidade, com um pé sobre o cavalo chamado destino e o outro sobre o cavalo chamado livre arbítrio”. A frase é da escritora Elizabeth Gilbert no livro “Comer, Rezar e Amar”. O best-seller mundial com mais de 4 milhões de exemplares vendidos e que inspirou filme homônimo, sucesso de bilheteria, conta a história de uma mulher que largou tudo e partiu para uma viagem de um ano pelo mundo em busca de respostas. Filha de pai norte-americano e mãe carioca, a bauruense Mônica Rothberg, 45 anos, empresária e estilista da “MUSA - Moda Feminina, Homem e Kids”, construiu muito mais que uma marca reconhecida. Em busca do que chamou de “rumo a seguir”, ela deixou a cidade ainda jovem para um giro pelo mundo e conseguiu estabelecer uma filosofia de vida retratada no caráter empreendedor, ousado, criativo e comprometido que apresenta. Ela chega para a entrevista trajando uma calça jeans, blusa branca, sapato de salto alto, colares e pulseiras douradas. Estilo definido por ela mesma como “básico”. A tiracolo uma bolsa combinando com os acessórios e, debaixo do braço, um envelope com fotos de viagens recentes que revelam muito mais do que um hobby. Ela já fez cursos de inglês, francês, italiano, japonês e espanhol. Sem saber precisar, aponta aproximadamente 20 países visitados. Europa, Ásia, África e Américas foram continentes que conheceu. Mãe de Vinícius, 12 anos, fruto do primeiro casamento, a empresária encontra na experiência vivida e no apoio do marido, o comerciante Moacir Bacci Neto, os caminhos para a orientação do filho e a força para manter a carreira de sucesso. Mônica não é do tipo de pessoa que pensa apenas em como passar o tempo. Determinada, a entrevistada desta semana revela um perfil empreendedor e conta como fez para aproveitar e criar suas próprias oportunidades. Jornal da Cidade - Você nasceu em Bauru? Mônica Rothberg - Sim, sou bauruense, mas existe toda uma história até minha família chegar na cidade. JC - Então conte essa história. Mônica - Apesar de bauruense, sou filha de pai americano e mãe carioca. Mas a história é longa, começa lá atrás com meus avós (risos). Na verdade meu avô, também norte-americano, veio passar férias na Bahia e conheceu minha avó, que era de ascendência russa. Eles se apaixonaram e foram para os Estados Unidos, onde casaram e tiveram filhos. Um deles meu pai, que nasceu em Massachusetts e retornou ao Brasil com 15 anos. Ele foi estudar medicina no Rio de Janeiro, onde conheceu minha mãe. JC - E seu pai se formou no Rio? Quando veio para Bauru? Mônica - Meu pai (Abraham Rothberg) acabou se especializando em radiologia. Naquela época o interior ainda estava começando e não haviam muitos especialistas por aqui. Foi então que, após casar, mudou-se com minha mãe para Bauru. JC - Então, seu pai foi um dos primeiros especialistas na área de radiologia na cidade? Mônica - Meu pai foi o primeiro radiologista de Bauru e de toda a região. E foi com isso que eles fizeram a vida. Nunca faltaram convites de empregos para ele. Sempre foi requisitado. JC - E seus pais nunca mais voltaram para o Rio? Mônica - Eles souberam aproveitar a oportunidade e se estabeleceram por aqui. A situação era confortável e graças a isso eu e meus irmãos sempre pudermos contar com a presença da minha mãe em casa. JC - Quantos irmãos você tem? Mônica - Sou a quarta dos cinco filhos que meus pais tiveram, e a última mulher. Depois ainda veio o Danilo. O interessante é que só existe sete anos entre as quatro mulheres. Já o Danilo veio um pouco depois. JC - Numa casa com tantas meninas, como foi sua infância? Mônica - Era muito bacana. A gente sempre fala que quando criança poucas coisas bastam para nos fazer felizes. JC - E a adolescência? Mônica - Nessa fase sempre existe a rebeldia de adolescente. Foi nesse momento que não entendia porque meus pais tinham saído do Rio de Janeiro para vir para Bauru. Na época a cidade era pequena e não tinha muitos atrativos para os jovens. JC - E o que você fez? Mônica - Foi então que tomei a decisão. Não sabia ao certo que rumo seguir, qual profissão escolher, que faculdade cursar, essas coisas. Então decidi estudar inglês fora do País. Meu destino foi Londres, na Inglaterra. JC - Quantos anos você tinha? Mônica - Tinha 18. JC - E o que fez por lá? Mônica - Bom, fui para estudar a língua inglesa e conhecer a cultura nesses programas semelhantes aos que existem hoje. Fui pra estudar e trabalhar durante um ano, e nesse período trabalhei de camareira e garçonete lavando pratos. JC - Mas você não falava inglês com seu pai sendo norte-americano? Mônica - Além de meu pai ser norte-americano, minha mãe era professora de inglês. Meu pai só falava em inglês dentro de casa. Aquela história de papo de adulto, sabe? Que filhos não podem entender? Então, acho que por isso eles só falavam inglês. Mas também não sei se era para nos incentivar a falar outra língua. Na verdade não sei até hoje o motivo (risos). Mas voltando ao assunto, eu até me formei em inglês aqui na cidade, mas queria me aperfeiçoar. Como disse antes, era aquela ânsia de adolescente querer mudar do país. JC - E como foi essa experiência? Mônica - Foi a primeira maior sensação fantástica que tive na minha vida. Foi um grande sentimento de liberdade, entende? Pois é, mas o que era para ser de um ano acabou se estendendo. Eu ainda não sabia que rumo seguir, por isso pensei: se voltar para casa, vou fazer o quê? O melhor é continuar buscando conhecimento. Depois disso, fui à Europa. JC - Foi para estudar? Mônica - Na verdade fui mochileira (risos). Primeiro peguei um avião de Londres para Cairo (capital do Egito) e depois fui conhecer a Europa. Uma mochila nas costas e um passe livre de metrô me fizeram conhecer quase todos os países europeus. JC - Mas por quais países você passou? Mônica - Olha, quando fiz essa aventura, os países do leste da Europa ainda estavam bloqueados. O Muro de Berlim ainda dividia a Alemanha em Ocidental e Oriental. Ainda consegui visitar a Romênia, a Iugoslávia e a Alemanha Oriental. E posso dizer que foi uma sensação incrível. Me lembro que a situação era tão terrível que nas prateleiras dos mercados não havia opções. Eram um ou dois pacotes de biscoito, macarrão... era terrível. JC - E depois, você voltou? Mônica - Ainda não (risos). Foi aí que comecei a formar um sonho de ir para os Estados Unidos. JC - Mas não voltou nem por uns dias? Mônica - Tinha isso bem definido: só voltaria quando estivesse determinada no que fazer dali pra frente. JC - Ficou muito tempo nos Estados Unidos? Mônica - Foi mais ou menos um ano também. Sei que ao todo, da Inglaterra, passando pela aventura na Europa e nos Estados Unidos, foram dois anos fora. JC - E depois de todo esse tempo conhecendo outras culturas, conseguiu se decidir? Mônica - Foi em 1986 que retornei para Bauru. Decidi que minha formação teria que ter algo a ver com criatividade. Queria uma faculdade, uma formação em que pudesse por em prática todas as minhas ideias. JC - E conseguiu? Mônica - Fiz um pouco de cursinho e consegui entrar na Unesp, na extinta Faculdade de Artes Visuais, que hoje seria o curso de Desenho Industrial. JC - Mas você conseguiu campo aqui em Bauru? Mônica - Sim, e muito rápido. Em dois anos de faculdade fui chamada para trabalhar na Tilibra para desenvolver produtos. Na época eles falaram que como eu era abusada, seria fundamental para a intenção de mudar a cara do material deles. JC - E o que você fazia? Mônica - Eu criava capas de agendas e cadernos. Lá eu podia desenvolver toda a minha criatividade. JC - E depois da Tilibra, qual foi o destino dessa “criatividade abusada”? Mônica - Só saí da Tilibra para dar início ao projeto de abrir um negócio com minha irmã. Foi então que criamos a Camisaria Roth. JC - E o negócio foi bem desde o início? Mônica - Tudo sempre é complicado no começo. Nos deparamos com algumas barreiras pela falta de conhecimento, mas sempre buscamos nos informar de tudo. JC - E como surgiu a MUSA? Mônica - Pois é, eu ainda tentei a vida em São Paulo. Mais uma vez estava cansada de ficar por aqui e tentei mudar para a capital. Acabei levando a Camisaria Roth pra lá também. Tive algumas lojas em São Paulo mas retornei depois. E foi aí que nasceu a MUSA, já que buscava outra trajetória que a de minha irmã e da própria Roth. JC - Mas afinal, por que MUSA? Mônica - Gosto muito de ler e na época estava lendo um livro que falava sobre mitologia. Precisava de inspiração para um nome, e pensei: por que não Musa? Afinal, na mitologia as musas eram fontes de inspiração. O nome soou bem e ficou legal. JC - São quatro lojas e a grife acaba atendendo hoje não apenas as mulheres, mas também homens e crianças. Quando veio a mudança? Mônica - Bom, comecei com moda feminina, depois passei a atender homens e também crianças. Isso foi à época que meu filho (do primeiro casamento) era pequeno e senti a necessidade de atender esse público também. JC - E depois de tantas voltas, acabou se acertando em Bauru? Mônica - Sim. Depois de tantas voltas e de estudar tanto, acabei vendo que o meu lugar era Bauru. Acabei descobrindo minha felicidade aqui. JC - Com o tempo, a cidade mudou. Você tem saudade do que deixou pra trás? Mônica - Não me arrependo. Mas a cidade mudou bastante mesmo. Hoje são muitas opções, tanto de lazer, cultura, formação, tudo. Sentia muita falta daqui quando estava em São Paulo. Ficava lembrando do céu azul que não via por lá. Percebi que as coisas que eu achava que precisava antes de sair daqui, não eram mais tão necessárias. Tenho muito orgulho dessa cidade. JC - E o que de mais especial trouxe dessas andanças? Mônica - Com certeza conhecimento. Eu queria estar preparada para a vida, e acho que isso é muito importante. O conhecimento é base de tudo. JC - É isso que você passa para seu filho? Mônica - Em todos os lugares que passei, vi que o ser humano, apesar de muitas diferenças perceptíveis, tem muito em comum. Em qualquer lugar do mundo as necessidades são as mesmas. Passo para meu filho que busque sempre conhecimento, busque entender, seja curioso. Tem uma frase do Einstein (Albert, físico teórico alemão) que diz: “Não tentes ser bem sucedido, tenta antes ser um homem de valor”. E é bem por aí. JC - Você se sente realizada? Mônica - Sou muito feliz. Não podemos dizer que somos completamente realizados, pois a batalha nunca acaba. O que você conquistou durante toda uma vida você pode perder em alguns anos. Mas posso dizer que encontrei minha felicidade. Perfil Nome: Mônica Rothberg Idade: 45 anos Local de nascimento: Bauru/SP Signo: Libra Filhos: Vinícius, 12 anos Hobby: Ler, assistir filmes e viajar Livro de cabeceira: “O que a vida me ensinou”, de Washington Olivetto Filme preferido: “Meia Noite em Paris” Estilo musical predileto: Soul e dance (anos 70 e 80) Time: Não tem Para quem dá nota 10: Para toda minha família Para quem dá nota 0: Para a corrupção no Brasil E-mail: monica@lojasmusa.com.br |
domingo, 21 de agosto de 2011
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