Plateia e atores em cena
Diario do nordesteO palco é por toda parte. Em cena, atores e público se misturam. Esta é a proposta da peça "Jardins das Espécies", que segue a linha do uso de espaços não convencionais. Baseado no arquétipo feminino do século XXI, o espetáculo tenta compreender o universo feminino que, nas últimas décadas, passou por uma revolução sem perder as funções tradicionais de mãe e de mulher.
Em decorrência da pressão social, midiática e do acúmulo de funções, essa nova mulher desenvolve neuroses antes desconhecidas. Comportamentos, síndromes e patologias como Transtorno Obsessivo Compulsivo, cleptomania, sadomasoquismo e narcisismo, dentre outros, tornaram-se cada vez mais corriqueiros, chegando a atos extremos de loucura.
E assim, a partir de fragmentos de histórias, jogos cênicos e de forma inusitada, o espetáculo aproxima o espectador da realidade tão comum nos nossos dias. O papel do artista neste projeto é saber descobrir as qualidades das tensões e modelá-las de forma que o espectador se veja em cena e participe sem perceber que ele é autor e produtor do espetáculo.
De acordo com seus criadores, não é um bom texto apenas. É também uma boa montagem, porque cenário, iluminação, sonoplastia e atrizes contribuem para uma obra que não se esforça em ter menos que o necessário para servir à arte, mas trazer o público para a cena. O espectador interage e vivencia a sua realidade. Ou seria a realidade dos personagens?
Criação
O processo criativo está sendo desenvolvido há aproximadamente dez meses pelo grupo EmFoco, constituído por alunos do 5º semestre de Licenciatura em Teatro do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE). O projeto demandou reuniões diárias e pesquisas externas.
Na história, Célia, Teresa e Elisabete são três mulheres do século XXI que atravessaram o período pós-feminista sem deixar os papeis de mãe e de esposa. Três mulheres que, pressionadas pelo acúmulo das atividades domésticas, pressão psicológica da sociedade e da mídia, desenvolvem neuroses que tramitam entre a sanidade e a loucura, ficando na linha tênue da própria realidade.
O EmFoco, impulsionado pelo processo de pesquisa da evolução do teatro brasileiro, foi criado visando concentrar-se nos experimentos de atuação. Sua linha de pesquisa está baseada no Teatro do Real, que, segundo a pesquisadora Silvia Fernandes, é uma estética que visa captar o real, levando o espectador a confrontar-se com os signos em estado bruto, seja colocando-o em um espaço concreto, foco da pesquisa do grupo, seja transformando-o em coautor da cena.
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